Watchmen


Bem, bem, bem...

Mais de 20 anos esperando esse filme...

Quando os quadrinhos saíram em 1986, pouca gente percebeu o quão revolucionário seria aquele trabalho. Era uma época de Graphic Novels, quadrinhos de luxo, com desenhistas conceituados e roteiros diferenciados. E imagino que Watchmen tinha tudo para ser apenas mais uma entre tantas, não fosse a visão crítica, ácida e impiedosa de autor, Alan Moore. Com o desenhista e parceiro David Gibbons, entre 1986 e 1987, ele mudaram o conceito de super-herois para sempre.
O que o Alan Moore fez, foi usar sua história para expor as ansiedades da época, ao mesmo tempo em que criticava o conceito dos super-heróis.
A ação se passa em um Estados Unidos da América alternativo, onde o país ganhou a guerra do VietNam com a ajuda de vigilantes fantasiados em um mundo na iminência de uma guerra nuclear entre americanos e russos.

A segunda geração de vigilantes fantasiados enfrenta a proibição de suas atividades por uma lei federal, embora o próprio governo continue usando vigilantes, de forma secreta e em causa própria. (Aliás, muita gente veio beber nessa fonte. Vejam a primeira temporada da série televisiva "Heroes" ou o desenho animado "Os Incríveis")

Nesse universo, existe apenas um herói com super-poderes, Dr. Manhattan, fruto de um acidente nuclear, com poderes quase divinos.

Gibbons, o desenhista, usou um layout vertical aos quadrinhos, em uma grade de nove painéis, que não só deu uma dinâmica fantástica à história, como foi perfeito para o Story Board do filme.

Os quadrinhos contam ainda com relatos de psicólogos, documentos policiais e pessoais, trechos do Livro "Under The Hood" (Sob a Máscara) que um dos heróis aposentados escreveu, e com uma revista em quadrinhos, "Tales of the Black Freighter" (Contos do Cargueiro Negro) que um dos personagens lê durante a história. Essa expansão do universo ficcional cria um embasamento incrível para justificar as atitudes individuais e o movimento social apresentado na história.

Claro, seria impossível colocar todos esses elementos em um filme cinematográfico. Zack Snyder, o diretor do filme, optou por fazer dois subprodutos, que devem ser incluídos no DVD do filme. Em um, ele faz uma reportagem televisiva nessa New York paralela, onde o repórter faz um estudo sobre o livro Under The Hood, com entrevistas e analises. No outro, foi feito um desenho animado, relatando a história Tales of The Black Freighter. Uma ideia (e uma saída) genial, para suprir a ausência desses elementos no filme.

Durante anos se falou sobre a adaptação da história para o cinema. Em uma dessas possiveis versões, falava-se em Clint Eastwood no papel do Comediante e Hutger Hauer como Osimandias, eu acho que teria sido muito legal.
Para mim, a melhor alternativa sempre foi uma série televisiva. Em minha opinião, deveram fazer doze episódios, um para cada revistinha, e haveria tempo para mostrar tudo!

Que surpresa foi esse filme!!

Eu tinha medo do diretor. Tudo que ele tinha feito de relevância fora uma regravação de um clássico do terror, O Despertar dos Mortos, de George Romero. Tá, estava bem dirigido até, mas não é lá uma grande base para um diretor.

Então ele dirigiu o "300"...
De uma história em quadrinhos de Frank Miller, Zack Snyder fez um filme magistral!

E adaptar Frank Miller sempre foi meio complicado. Alias, falando nele, no mesmo ano em que Watchmen foi publicado pela primeira vez, Frank Miller lançou o seu "Batman - O Cavaleiro das Trevas" uma série revolucionaria que apresentava um Batman com 55 anos de idade, aposentado, consumido pela culpa que sentia pela morte do Robin e pelo avanço do crime.
Essa história trouxe Batman de volta às bancas e modificou a maneira como se contariam suas histórias, a partir de então.
Eu pessoalmente acho os Watchmen uma revolução muito maior que O Cavaleiro das Trevas, porque se esse mudou como se escreve histórias de super-herois, o Watchmen mudou o próprio conceito de heróis mascarados!

Bem, voltando ao filme, acho que o que mais me impressionou foi a paixão de Zack Snyder pela história e seus personagens. Ele é um fã, e foi como fã que ele dirigiu o filme. Não é um filme de ação, embora esteja cheio dela. É um filme feito por um amante dos quadrinhos, que imaginava como seria ver sua história em quadrinhos preferida no cinema.

Algumas mudanças drásticas ocorreram entre os quadrinhos e o filme, e eu respeito essas diferenças completamente, entendo mesmo a intenção do diretor.
É um filme genial, quase capitular, como foram os quadrinhos, onde os personagens se apresentam individualmente, enquanto suas histórias se misturam até o final explosivo.

Trilha sonora perfeita, cores perfeitas, efeitos visuais impecáveis.
Imagino que o filme Watchmen vai ter o mesmo destino de Blade Runner, de Ridley Scott, com Harrison Ford no papel principal. Vai ser aquele tipo de filme que vai vender muito mais em DVD que no cinema, e daqui a 15, 20 anos, ainda estaremos falando nele.
Um clássico, um cult em seus primeiros dias.

Se você já leu os quadrinhos, é muito provável que goste do filme, ele respeita a integridade da história original como poucos conseguiram.
Se você nunca leu, se não sabe do que se trata, assista duas vezes!
Tem muito mais alí do que eu fui capaz de digerir com apenas uma vez, e eu lí os quadrinhos, várias vezes.

Cinema da melhor qualidade, intrigrante, bonito, cheio de análises sociais, aventura, romance, lutas, mas por cima de tudo, e como pano de fundo permanente, a fria observação de como o ser humano reage quando seus direitos se tornam maiores que os do resto da população.

Em uma determinada cena, o Comediante está atirando contra a população da cidade, para desfazer uma passeata (que ironicamente acontecia pedindo o fim dos vigilantes). O Coruja, finalmente chocado com o que os heróis haviam se tornado, pergunta o que aconteceu com o "Sonho Americano".
O Comediante rí um riso amargo, e enquanto recarrega suas armas para continuar atacando a população, responde: _"O Sonho americano? Ele se realizou! Ele está aqui!"

Gente, filmão! Poderia falar sobre as similaridades entre o Manhattan e o Ozimandias, ou o Comediante e o Rorschach, mas acho até redundante. Ou talvez apenas um tema para outro post. No momento, ainda estou naquele estado de deslumbramento, de quem saiu de uma sala de cinema sabendo que viu algo especial, incomum e raro.

Ah, e ainda teve um trailer do Star Trek do J. J. Abrahams!!

Que noite perfeita!

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