À Flor da Idade - (ou "O Que É Necessário Para Entrar na Fila Preferencial dos Bancos")
Acabei descobrindo que passar dos trinta anos de idade é mais benéfico que depressivo, como eu imaginava que seria, aos vinte anos de idade.
Agora que cheguei na casa dos quarenta, descobri que o tempo que passei entre pessoas com a mesma idade que eu, como colegas de colégio (sério, tenho amigos do primeiro grau com quem ainda me relaciono!!), ou com pessoas velhas, como meus pais, irmãos e família, e mesmo com pessoas mais novas, como filhos e sobrinhos, ví que esse tempo, que embruteceu alguns e me levou outros, me tornou um pouco cínico, mas me deu uma visão muito crítica da realidade, ou pelo menos da realidade próxima a mim.
Concordo que a maturidade traz consigo algumas vantagens, mas descobri que trás também um nível de frustração que eu desconhecia e que não acho que seja possível antecipar.
Exemplificando:
Naquele caso do aluno do curso de Comunicação Social aqui na UFT que, perante a banca de professores, apresentou um trabalho copiado da Internet como sendo seu Projeto Experimental.
Foi reprovado por uma das professoras da banca que conhecia o referido trabalho. Ela, uma jornalista séria e uma professora atenta, já tinha feito sua própria pesquisa.
E eu sei que seria apenas mais um caso entre tantos, ainda mais no atual momento político (?) que o Brasil vive, se eu tivesse menos idade. Mas algumas coisas aconteceram que me colocaram para pensar, e me ví em uma daquelas crises que só quem tem mais de trinta entende.
Primeiro, soube que o aluno plagiador já trabalha no mercado de Comunicação dessa capital. Depois, uma amiga me disse "Tadinho, ele é muito gente boa, que pena que isso aconteceu com ele." E uma outra pessoa me disse que "isso é, certamente, culpa do Orientador do aluno, que deve ter deixado tudo muito frouxo".
E, embora eu goste de pensar que não, acho que foi isso que mais me surpreendeu.
Afinal, o que é isso que acontece com todo mundo? O que é isso que só alguns, muito de vez em quando vêem, e que aparentemente os inibe a criticar?
Como foi que ficamos tão paternalistas, quando fizemos essa opção pela cegueira conveniente, e será verdade que somente a idade pode desanuviar nossos olhos?
Com respeito ao aluno, em seis meses ele poderá apresentar outro projeto, e provavelmente estará no mercado de trabalho, agora com o valioso canudo, no ano que vem.
"Tadinho dele", me disse a amiga. Tadinho?? Mas o sujeito enlameia nossa faculdade, meu local de trabalho e estudo! Não tem a mínima preocupação com o reflexo que isso teria sobre os colegas ou o nome da Faculdade. Não se preocupa nem com a própria vida profissional! Quero dizer, se alguém se forma em Comunicação (ou ao menos tenta) apresentando um plágio, o que fará quando estiver no mercado de trabalho?
E mais, a culpa é do orientador do aluno? Ainda que o orientador fosse péssimo (não sei quem foi o orientador, mas gosto de acreditar que o corpo de professores é competente), ainda que, se fosse tão péssimo a ponto de sugerir que um aluno buscasse na Internet um trabalho pronto, é o carater do aluno que decide isso, no final.
Como foi que ficamos tão superprotetores, a ponto de achar que a culpa dos erros é sempre de alguém acima do perpetrador dos próprios erros? Como foi que permitimos que chegasse a esse ponto, quando pessoas acham desculpas para não punir, para "perdoar" os erros, no lugar de corrigi-los.
E, a amiga que partiu em defesa a esse arremedo de aluno me disse que não deveríamos tomar uma atitude de denúncia, porque senão, "ele não teria como se arrepender e entender que agiu errado". E é uma amiga culta!!
Então, vamos fazer isso: Não vamos estragar o futuro desse ladrão, desse irresponsável, desse cretino que não se preocupou em diminuir a credibilidade sobre a nossa profissão, para que ele tenha tempo para se arrepender.
E, partindo desse mesmo raciocínio, vamos cancelar todas as CPIs, para que todos os Renans tenham tempo para entender os erros e se arrependerem.
O que eu lamento, nessa história pequena, que aconteceu em uma cidade jovem, que grande parte do país mal sabe onde fica, nem é que em seis meses ele será um jornalista. O que eu lamento é que ele tenha a chance de ser!
Para concordar com o "perdoar" sugerido, a única maneira que me ocorre é que o aluno perdesse o direito de utilizar as matérias já feitas. Que ele tivesse que fazer de novo os quatro anos de curso, agora com uma nova visão sobre o certo e o errado, que dessa vez ele frequentasse e entendesse as aulas de ética.
E, pensando agora, quem me deu o empurrão inicial nessa minha revolta quarentona foi o homem que vende água de côco na lanchonete da UFT. Ele me disse, sorrindo que "nem adianta ficar pensando nisso, porque daqui a dois jogos da seleção, ninguém vai mais se lembrar de nada".
E eu fiquei pensando, será que é isso mesmo? Será que é isso que nós realmente somos?
Bem, imagino que foi a minha idade que me mostrou essa realidade, como agora a vejo. E não lamento minha frustração, pelo contrário, tento tirar cultura dela, tenho que explicar isso para meus filhos, e fazê-los entender.
E aceito o fato de que eles, meus filhos e seus amigos, essa nova faixa etária, fiquem confusos com essa atitude protecionista, e é até fácil para eles acreditarem que uma pequena falta aqui, uma pequena mentira ali, não seriam problemas, pelo contrário.
Mas essa responsabilidade que os quarenta anos de idade me trouxeram, de mostrar que o carater é mais importante que o ganho imediato, que a verdade é maior que a vantagem, não tem ficado mais fácil.
Meu filho me deu razões sólidas (ao menos para ele) pelas quais enganar é necessário, e embora isso seja assunto para um outro momento, eu digo que as trinta velinhas me trouxeram confiança, mas as quarenta me mostraram uma nova frente de combate, um novo campo de batalhas e me sinto quase que tão inseguro quanto me sentia as quinze.
Vou ter que esperar para ver, mas estou confiante com os cinquenta!
Agora que cheguei na casa dos quarenta, descobri que o tempo que passei entre pessoas com a mesma idade que eu, como colegas de colégio (sério, tenho amigos do primeiro grau com quem ainda me relaciono!!), ou com pessoas velhas, como meus pais, irmãos e família, e mesmo com pessoas mais novas, como filhos e sobrinhos, ví que esse tempo, que embruteceu alguns e me levou outros, me tornou um pouco cínico, mas me deu uma visão muito crítica da realidade, ou pelo menos da realidade próxima a mim.
Concordo que a maturidade traz consigo algumas vantagens, mas descobri que trás também um nível de frustração que eu desconhecia e que não acho que seja possível antecipar.
Exemplificando:
Naquele caso do aluno do curso de Comunicação Social aqui na UFT que, perante a banca de professores, apresentou um trabalho copiado da Internet como sendo seu Projeto Experimental.
Foi reprovado por uma das professoras da banca que conhecia o referido trabalho. Ela, uma jornalista séria e uma professora atenta, já tinha feito sua própria pesquisa.
E eu sei que seria apenas mais um caso entre tantos, ainda mais no atual momento político (?) que o Brasil vive, se eu tivesse menos idade. Mas algumas coisas aconteceram que me colocaram para pensar, e me ví em uma daquelas crises que só quem tem mais de trinta entende.
Primeiro, soube que o aluno plagiador já trabalha no mercado de Comunicação dessa capital. Depois, uma amiga me disse "Tadinho, ele é muito gente boa, que pena que isso aconteceu com ele." E uma outra pessoa me disse que "isso é, certamente, culpa do Orientador do aluno, que deve ter deixado tudo muito frouxo".
E, embora eu goste de pensar que não, acho que foi isso que mais me surpreendeu.
Afinal, o que é isso que acontece com todo mundo? O que é isso que só alguns, muito de vez em quando vêem, e que aparentemente os inibe a criticar?
Como foi que ficamos tão paternalistas, quando fizemos essa opção pela cegueira conveniente, e será verdade que somente a idade pode desanuviar nossos olhos?
Com respeito ao aluno, em seis meses ele poderá apresentar outro projeto, e provavelmente estará no mercado de trabalho, agora com o valioso canudo, no ano que vem.
"Tadinho dele", me disse a amiga. Tadinho?? Mas o sujeito enlameia nossa faculdade, meu local de trabalho e estudo! Não tem a mínima preocupação com o reflexo que isso teria sobre os colegas ou o nome da Faculdade. Não se preocupa nem com a própria vida profissional! Quero dizer, se alguém se forma em Comunicação (ou ao menos tenta) apresentando um plágio, o que fará quando estiver no mercado de trabalho?
E mais, a culpa é do orientador do aluno? Ainda que o orientador fosse péssimo (não sei quem foi o orientador, mas gosto de acreditar que o corpo de professores é competente), ainda que, se fosse tão péssimo a ponto de sugerir que um aluno buscasse na Internet um trabalho pronto, é o carater do aluno que decide isso, no final.
Como foi que ficamos tão superprotetores, a ponto de achar que a culpa dos erros é sempre de alguém acima do perpetrador dos próprios erros? Como foi que permitimos que chegasse a esse ponto, quando pessoas acham desculpas para não punir, para "perdoar" os erros, no lugar de corrigi-los.
E, a amiga que partiu em defesa a esse arremedo de aluno me disse que não deveríamos tomar uma atitude de denúncia, porque senão, "ele não teria como se arrepender e entender que agiu errado". E é uma amiga culta!!
Então, vamos fazer isso: Não vamos estragar o futuro desse ladrão, desse irresponsável, desse cretino que não se preocupou em diminuir a credibilidade sobre a nossa profissão, para que ele tenha tempo para se arrepender.
E, partindo desse mesmo raciocínio, vamos cancelar todas as CPIs, para que todos os Renans tenham tempo para entender os erros e se arrependerem.
O que eu lamento, nessa história pequena, que aconteceu em uma cidade jovem, que grande parte do país mal sabe onde fica, nem é que em seis meses ele será um jornalista. O que eu lamento é que ele tenha a chance de ser!
Para concordar com o "perdoar" sugerido, a única maneira que me ocorre é que o aluno perdesse o direito de utilizar as matérias já feitas. Que ele tivesse que fazer de novo os quatro anos de curso, agora com uma nova visão sobre o certo e o errado, que dessa vez ele frequentasse e entendesse as aulas de ética.
E, pensando agora, quem me deu o empurrão inicial nessa minha revolta quarentona foi o homem que vende água de côco na lanchonete da UFT. Ele me disse, sorrindo que "nem adianta ficar pensando nisso, porque daqui a dois jogos da seleção, ninguém vai mais se lembrar de nada".
E eu fiquei pensando, será que é isso mesmo? Será que é isso que nós realmente somos?
Bem, imagino que foi a minha idade que me mostrou essa realidade, como agora a vejo. E não lamento minha frustração, pelo contrário, tento tirar cultura dela, tenho que explicar isso para meus filhos, e fazê-los entender.
E aceito o fato de que eles, meus filhos e seus amigos, essa nova faixa etária, fiquem confusos com essa atitude protecionista, e é até fácil para eles acreditarem que uma pequena falta aqui, uma pequena mentira ali, não seriam problemas, pelo contrário.
Mas essa responsabilidade que os quarenta anos de idade me trouxeram, de mostrar que o carater é mais importante que o ganho imediato, que a verdade é maior que a vantagem, não tem ficado mais fácil.
Meu filho me deu razões sólidas (ao menos para ele) pelas quais enganar é necessário, e embora isso seja assunto para um outro momento, eu digo que as trinta velinhas me trouxeram confiança, mas as quarenta me mostraram uma nova frente de combate, um novo campo de batalhas e me sinto quase que tão inseguro quanto me sentia as quinze.
Vou ter que esperar para ver, mas estou confiante com os cinquenta!
Comentários
E apesar de ser novinha, me incomodo com isso também...
Me preocupo com o futuro da humanidade e fico indignada em saber de casos como esse...
Como é que pode?
O frustrante é saber que isso é comum, que essas coisas se tornaram banais. E o pior, ninguém faz nada pra mudar...
Por isso que o mundo está do jeito que está!
E confesso que tenho medo desse mundo...