Qu'est-ce qu'on a fait au Bon Dieu - (O que fizemos ao bom Deus)

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Gosto muito de comédias francesas. Os franceses têm uma visão cômica do mundo muito específica, muito característica, e é necessário abandonar o conceito pastelão de risadas rápidas e piadas explícitas para aproveitar uma comédia francesa. Se você ainda não conhece comédias francesas, saiba que esse mantém as linhas gerais mas é atípico.

Nesse filme, um casal típico francês tem seus valores nacionalistas confrontados, dissecados e destruídos quando suas quatro filhas decidem se casar com homens de origem não francesa.

Provavelmente o filme mais racista que eu já assisti na vida!


E, talvez, uma das melhores críticas ao racismo no cinema europeu.


O casal central, pais e sogros, é formado por Claude e Marie. 


Claude é orgulhoso
por ser branco, francês e católico. Se intitula “Gaullinista”, um seguidor dos princípios do ex-presidente francês Charles de GaulleNa verdade, não existe, realmente, uma doutrina gaullinista, uma vez que de Gaulle era um político pragmático que adaptou suas ações ao momento do país, mas ele era extremamente conservador e pregava a “França para os franceses”.
Marie é o exemplo da dona de casa francesa, católica ao extremo. Tanto que ao ser diagnosticada com depressão e orientada a procurar um especialista, ela vai falar com o padre! E, embora, se orgulhe de sua alegada capacidade de aceitar outras culturas, vive em um constante estado de discriminação para com os “diferentes”.

Para desespero dos pais, as três filhas mais velhas, Isabelle, Odile e Ségolène, casam-se, em intervalos de poucos meses, com o que seriam as piores opções para os pais.

A primeira se casa com Rachid Ben Assem, um árabe muçulmano. 
A segunda se casa com David Benichou, um judeu, e a terceira se casa com Chao Ling, um chinês. 


Quando 
 Laure, a caçula,  informa à família que vai se casar, os pais entendem que ela é a última chance de terem uma “família francesa normal”. Os elogios à caçula não acabam, ainda mais quando ficam sabendo que o noivo se chama Charles e é católico! 


Entretanto, para arruinar de vez com os sonhos dos pais, Charles é negro!!

Mas não é só o racismo dos pais. Cada um dos genros tem aversão aos outros! E aos sogros!
Quando as irmãs mais velhas descobrem que a caçula vai se casar com um negro, montam uma operação para evitar o casamento!

O pai de Charles, um negro enorme da Costa do Marfim e que ODEIA brancos, vai a Paris para o casamento do filho, e toda a história escala em uma explosão de racismo e ofensas políticas!

O padre é racista. O policial é racista. Parece que o filme nos diz que a França é racista e o mundo é racista.

E isso é contado de uma forma admiravelmente eficiente!

As piadas, às vezes muito localizadas, exigem um pouco de conhecimento de cinema e história moderna, mas até isso é bem trabalhado! Os apelidos que os personagens vão dando aos outros (“Arafat”, Jackie Chan”, “Idi Amin”…) vão do ofensivo ao cômico, muito rapidamente.


O admirável é que eles construíram um filme racista, em que todos os personagens são racistas e, mesmo assim, simpáticos, cada um à sua maneira. E, é justamente essa simpatia individual, essa atração que eles exercem sobre quem assiste, que acaba por nos mostrar o quão ridícula e desnecessária é a discriminação.
O filme funciona ao inverso, extrapolando o racismo e deixando que as consequências dele resolvam os problemas.

Admirável!!


O filme é divertido, rico em referências e profundo ao analisar as interações humanas.

Não é uma comédia francesa típica para se conhecer o estilo, mas para quem já gosta do
cinema cômico francês, é um filme precioso e imperdível.


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Sogros

ELENCO

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