“Carrie” ou “Por Que Hollywood Faz Isso?”
SPOILERS!!! Esse post assume que os leitores já conhecem a trama do livro e filmes!
Se você ainda não leu ou assistiu, sugiro fortemente que o faça ANTES de ler o post!
Carrie é um livro escrito por Stephen King em 1974. Na trama, uma menina feia e maltratada pelos colegas de escola, criada por uma mãe fanática religiosa, descobre ter poderes telecinéticos, que acaba por usar com terríveis consequências. A história é uma metáfora que denuncia os perigos do fanatismo religioso ao mesmo tempo em que expõe o bullying entre adolescentes.
Claro, tendo sido escrito por quem foi, a historia extrapola em muito o conceito metafórico, dando vida a personagens críveis e inesquecíveis.
Quando eu li sobre uma regravação de Carrie (No Brasil, o livro do mestre Stephen King foi publicado com o nome de “Carrie, A Estranha”), fiquei meio apreensivo. Afinal, a versão de 1976 era perfeita em si. Direção do Brian de Palma, trilha sonora de Pino Donnagio, elogiada pelo próprio Stephen King!
Mas também entendo que, embora algumas obras do mestre sejam atemporais, como é o caso de “O Iluminado”, uma história como Carrie pode se valer das mudanças sociais e mesmo tecnológicas, para contar a mesma história sobre outra perspectiva.
A escolha da atriz principal também me preocupou. A atriz escolhida, Chloë Grace Moretz (A Hit-Girl do filme Kick-Ass) é bonitinha demais para o papel. A Carrie não é uma menina bonita com os cabelos bagunçados e roupas feias. Ela é uma menina sem atrativos, o que piora o tratamento que recebe na escola.
Ainda assim, fiquei muito curioso sobre como poderiam atualizar a história, E la fui eu assistir ao filme novo.
Eu acho que teria sido ótimo se a diretora do filme, Kimberly Peirce, não tivesse assistido ao filme de 1976, mas apenas lido o livro.
Claro, os roteiristas também têm sua responsabilidade, mas o filme não é uma atualização do anterior. É apenas o mesmo filme, com elenco mais fraco e trilha sonora desprezível, feito com mais efeitos especiais.
Em alguns trechos, os personagens do novo filme repetem exatamente as mesmas falas do filme anterior, não do livro.
Em uma tentativa de atualizar a trama, um vídeo da cena dos absorventes é feito pela vilã com um celular e jogado no Youtube, uma forma contemporânea de bullying. Sim, não existia Youtube em 1976, mas não é uma modificação que justifique fazer outro filme!
E, embora errada para o papel, Chloë Grace Moretz realmente se esforça para dar credibilidade à sua Carrie. Mas enquanto a vencedora do Oscar Sissy Spacek nos trás uma Carrie traumatizada, anti-social, medrosa, desconfiada e assustada com seu próprio poder, Chloë Grace nos dá uma adolescente comum, que rapidamente se adequa ao seu novo Status Quo.
É como se ela não tivesse encontrado a personagem e praticamente tudo que ela faz soa falso.
Quando o sangue cai e Tommy Ross, seu acompanhante no baile, jaz a seus pés, a nova versão tem uma reação absolutamente normal para qualquer pessoa que não fosse Carrie. Ela se ajoelha e lamenta o rapaz caído. Uma cena completamente dispensável, que nega o que está por acontecer! Se ela ainda mantinha algum controle, a ponto de se entristecer por outra pessoa, os eventos posteriores jamais ocorreriam.
A Carrie de Sissy Spacek, ao ser humilhada mais uma vez, apenas rompe o elo que a liga com os outros seres humanos. O poder toma posse dela, é como se ela não existisse, mas apenas a fúria. Quando essa Carrie parte para a vingança, ela aterroriza quem assiste.
Já Chloë Grace é um misto de Cavaleiro Jedi e X-Men, usando as mãos em um péssimo recurso de interpretação, como se seu poder viesse dos braços e não do cérebro.
Os personagens são caricatos. Os maus são maus. Os nerds, nerds. Os idiotas, idiotas. Não há variações, não há dualidade, não há profundidade. Mesmo a moça boazinha, que é má no começo, se torna absolutamente boa e pronto.
A trilha sonora simplesmente não faz jus ao filme, embora o filme não faça também jus ao livro ou ao filme anterior. Mas é apenas uma mistura de músicas atuais e ruídos rápidos e graves para dar sustos, não clima.
Claro, tem a mãe da Carrie, Margaret White, interpretada por Piper Laurie no filme de 1976 e por Julianne Moore no de 2013.
Enquanto a versão de Piper é fantástica e, ao mesmo tempo, assustadora, Julianne Moore trouxe todo um novo nível de excelência à personagem.
De uma certa maneira, o filme é dela. Claro, todo o elenco, de uma maneira geral, não está confortável em seus papeis, mas a despeito disso, Julianne coloca tal força em sua personagem, que se o filme tivesse só ela, eu pagaria para assistir! De verdade, o resto do elenco abafa um pouco de seu brilho.
Eu entendo a necessidade comercial de levar uma história de sucesso para a próxima geração, os novos pagantes. Mas, tirando alguns efeitos especiais que nem precisavam estar lá, o filme é uma cópia tosca do primeiro!
E a diretora entendeu, talvez tarde demais, que o filme anterior era muito clássico. Insegura, ela criou CINCO finais diferentes, tentando agradar o máximo de espectadores. A cada teste de amostragem que era feito, um final novo era criado. Mais bizarro ainda, o final em DVD é diferente do final mostrado nos cinemas.
Melhor seria se apenas lançassem o original de volta. Não vi razão alguma para trazerem de volta à tela uma história idêntica, pior contada que a original.
Enfim, Hollywood se mantém no padrão Silvio Santos de Tudo Por Dinheiro.
Abaixo, a cena do sangue no filme original, um exemplo maravilhoso de direção, fotografia e trilha sonora, casados com perfeição e qualidade absoluta. Precisava mesmo refazer isso?
Se você ainda não leu ou assistiu, sugiro fortemente que o faça ANTES de ler o post!
Carrie é um livro escrito por Stephen King em 1974. Na trama, uma menina feia e maltratada pelos colegas de escola, criada por uma mãe fanática religiosa, descobre ter poderes telecinéticos, que acaba por usar com terríveis consequências. A história é uma metáfora que denuncia os perigos do fanatismo religioso ao mesmo tempo em que expõe o bullying entre adolescentes.
Claro, tendo sido escrito por quem foi, a historia extrapola em muito o conceito metafórico, dando vida a personagens críveis e inesquecíveis.
Quando eu li sobre uma regravação de Carrie (No Brasil, o livro do mestre Stephen King foi publicado com o nome de “Carrie, A Estranha”), fiquei meio apreensivo. Afinal, a versão de 1976 era perfeita em si. Direção do Brian de Palma, trilha sonora de Pino Donnagio, elogiada pelo próprio Stephen King!
Mas também entendo que, embora algumas obras do mestre sejam atemporais, como é o caso de “O Iluminado”, uma história como Carrie pode se valer das mudanças sociais e mesmo tecnológicas, para contar a mesma história sobre outra perspectiva.
A escolha da atriz principal também me preocupou. A atriz escolhida, Chloë Grace Moretz (A Hit-Girl do filme Kick-Ass) é bonitinha demais para o papel. A Carrie não é uma menina bonita com os cabelos bagunçados e roupas feias. Ela é uma menina sem atrativos, o que piora o tratamento que recebe na escola.
Ainda assim, fiquei muito curioso sobre como poderiam atualizar a história, E la fui eu assistir ao filme novo.
Eu acho que teria sido ótimo se a diretora do filme, Kimberly Peirce, não tivesse assistido ao filme de 1976, mas apenas lido o livro.
Claro, os roteiristas também têm sua responsabilidade, mas o filme não é uma atualização do anterior. É apenas o mesmo filme, com elenco mais fraco e trilha sonora desprezível, feito com mais efeitos especiais.
Em alguns trechos, os personagens do novo filme repetem exatamente as mesmas falas do filme anterior, não do livro.
Em uma tentativa de atualizar a trama, um vídeo da cena dos absorventes é feito pela vilã com um celular e jogado no Youtube, uma forma contemporânea de bullying. Sim, não existia Youtube em 1976, mas não é uma modificação que justifique fazer outro filme!
E, embora errada para o papel, Chloë Grace Moretz realmente se esforça para dar credibilidade à sua Carrie. Mas enquanto a vencedora do Oscar Sissy Spacek nos trás uma Carrie traumatizada, anti-social, medrosa, desconfiada e assustada com seu próprio poder, Chloë Grace nos dá uma adolescente comum, que rapidamente se adequa ao seu novo Status Quo.
É como se ela não tivesse encontrado a personagem e praticamente tudo que ela faz soa falso.
Quando o sangue cai e Tommy Ross, seu acompanhante no baile, jaz a seus pés, a nova versão tem uma reação absolutamente normal para qualquer pessoa que não fosse Carrie. Ela se ajoelha e lamenta o rapaz caído. Uma cena completamente dispensável, que nega o que está por acontecer! Se ela ainda mantinha algum controle, a ponto de se entristecer por outra pessoa, os eventos posteriores jamais ocorreriam.
A Carrie de Sissy Spacek, ao ser humilhada mais uma vez, apenas rompe o elo que a liga com os outros seres humanos. O poder toma posse dela, é como se ela não existisse, mas apenas a fúria. Quando essa Carrie parte para a vingança, ela aterroriza quem assiste.
Já Chloë Grace é um misto de Cavaleiro Jedi e X-Men, usando as mãos em um péssimo recurso de interpretação, como se seu poder viesse dos braços e não do cérebro.
Os personagens são caricatos. Os maus são maus. Os nerds, nerds. Os idiotas, idiotas. Não há variações, não há dualidade, não há profundidade. Mesmo a moça boazinha, que é má no começo, se torna absolutamente boa e pronto.
A trilha sonora simplesmente não faz jus ao filme, embora o filme não faça também jus ao livro ou ao filme anterior. Mas é apenas uma mistura de músicas atuais e ruídos rápidos e graves para dar sustos, não clima.
Claro, tem a mãe da Carrie, Margaret White, interpretada por Piper Laurie no filme de 1976 e por Julianne Moore no de 2013.
Enquanto a versão de Piper é fantástica e, ao mesmo tempo, assustadora, Julianne Moore trouxe todo um novo nível de excelência à personagem.
De uma certa maneira, o filme é dela. Claro, todo o elenco, de uma maneira geral, não está confortável em seus papeis, mas a despeito disso, Julianne coloca tal força em sua personagem, que se o filme tivesse só ela, eu pagaria para assistir! De verdade, o resto do elenco abafa um pouco de seu brilho.
Eu entendo a necessidade comercial de levar uma história de sucesso para a próxima geração, os novos pagantes. Mas, tirando alguns efeitos especiais que nem precisavam estar lá, o filme é uma cópia tosca do primeiro!
E a diretora entendeu, talvez tarde demais, que o filme anterior era muito clássico. Insegura, ela criou CINCO finais diferentes, tentando agradar o máximo de espectadores. A cada teste de amostragem que era feito, um final novo era criado. Mais bizarro ainda, o final em DVD é diferente do final mostrado nos cinemas.
Melhor seria se apenas lançassem o original de volta. Não vi razão alguma para trazerem de volta à tela uma história idêntica, pior contada que a original.
Enfim, Hollywood se mantém no padrão Silvio Santos de Tudo Por Dinheiro.
Abaixo, a cena do sangue no filme original, um exemplo maravilhoso de direção, fotografia e trilha sonora, casados com perfeição e qualidade absoluta. Precisava mesmo refazer isso?
Comentários
Uma dúvida, li esse livro a muuuuito tempo, no livro ela tb não salva a professora né? Ela destrói tudo, sem medida ou controle.
Assisti ao filme antigo e imediatamente vi o novo, e sim, identifiquei várias falas idênticas, várias mesmo. Também esperava mais.
Quando o poder emerge, é como sempre foi. Sem medida e sem controle.
Ela destrói a cidade!
Eu concordo com o que o De Palma fez, por restrições orçamentárias. A destruição ficou contida, pronto.
Mas esse tinha mais recursos! Por que seguir o filme anterior e não o livro?
E mesmo produções menores, como "Christine" ou "Cemitério Maldito". algus diretores fazem a coisa direito.
O que eu acho é que a diretora deste "Carie" novo não deveria ter visto o filme do De Palma. Isso teria ajudado muito, penso eu...
Parabéns pelo post e pelo blog Neto.
Mas recomendo com FORÇA que você assista a versão de 1976, dirigida por Brian de Palma!
Uma das grandes adaptações de Stephen King para o cinema!
E obrigado pela visita!!