O tempo não para...



Da esquerda para a direita, eu, Tiô, Ana Rosa, Marcus e Adília, 30 anos atrás.


Hoje faz um mês que faleceu minha mãe número 2, minha Tiô, a Dona Maria Nazaré.


Ela era aquela pessoa que sempre esteve acima da morte. Embora eu nunca tivesse pensado nisso de forma lógica, eu "sabia" que ela iria no velório de todos nós. Ela sempre foi imortal para mim. Ela era sem fim, ela sempre "estava" lá.

Agora, um mês depois de sua morte, eu penso no último presente que ela me deu.

E nem foi um presente voluntário. Foi algo como a última parte de um presente que ela vinha me dando há anos.

Nessa situação extrema, de sofrimentos e desesperança, ela me devolveu meus irmãos.

Não que eu os tivesse perdido, mas depois de tanto tempo distantes, a própria visão que temos daqueles que amamos começa a se turvar, a perder a definição.

E de repente, no meio daquele turbilhão, naqueles dias de tristeza e desesperança, quando tudo parecia ruim e a sensação de perda era algo quase sólido, lá estavam eles, meus 3 irmãos...

E não é que eles não estivessem tristes, ou que soubessem exatamente o que fazer. Não. A tristeza deles, a sensação de impotência e o sofrimento eram tão grandes quanto os meus.

Em meu pior momento, quando achava que não aguentaria mais ver minha tia sofrendo, lá estava minha irmã mais velha, Adília, ligando para o médico, falando com os parentes, correndo atrás de soluções que me escapavam. E ela não estava imune ao sofrimento, haviam lágrimas em seus olhos, e ainda assim, acima de mim, havia ação nela. Ação que procura soluções, força para tentar mais um pouco. Adília é aquele tipo de pessoa que precisa encontrar soluções. E nesse momento terrível ela estava lá, olhos vermelhos e telefone na mão, correndo de um lado para o outro, tentando manter tudo e todos funcionando.

Não acho que eu teria passado por isso sem ela.

Ana Rosa, minha segunda irmã, mesmo com seus problemas de saúde, continua a pessoa que sempre foi, a irmã que eu me lembro de meus dias de menino. Ela tem um dom natural para ajudar, para tentar resolver os problemas das pessoas. E cuidava da mamãe, e ligava para minha filha grávida para saber como estava, e brigava com as enfermeiras por qualquer coisa que não estivesse de acordo, no cuidado de nossa tia. E estava lá para me abraçar. Não para dizer que tudo ficaria bem, ou para falar que isso ia passar. Mas apenas para me abraçar e me deixar saber que eu não estava sozinho, que ainda tinha mais na frente.

Marcus, meu irmão caçula, uma rocha em forma de gente. Seu sofrimento era visível em seus olhos, mas era necessário procurar para ver. Marcus é aquela pessoa que resolve os problemas. Que sai na frente e arruma, contrata, decide, delega, instrui. E justamente por ser assim, acho que ele sofreu muito, porque tinha que nos dar aquela aparência tranquila, aquele ar confiante que tanto precisamos, naqueles dias.

Mas atribuir qualidades especificas a cada um deles seria até injusto, porque os 3 compartilham das mesmas características, em momentos diferentes. Por vezes, era como se os 3 tivessem combinado o que fazer, tivessem ensaiado as ações, tamanha a sintonia e organização, quase coreografado.

Em uma das piores situações de minha vida, não poderia estar em melhor companhia.

Lamento o tempo que passei e ainda passo distante deles, mas tenho um orgulho imenso em poder chama-los de irmãos!

Não acho que ninguém no mundo tenha tanta sorte quanto eu, e vejo isso claramente hoje.

Amo vocês, com toda a força que meu coração consegue amar e peço a vocês perdão por qualquer coisa negativa, feia ou ruim que eu possa ter dito ou feito nesses dias, foi um período difícil e eu sei que me falta um bocado do auto-controle de vocês.

Claro, toda a família, filhos, sobrinhos, cunhados, primos e mesmo amigos de longa data, todos em seu melhor, no nosso pior momento. Tanto a agradecer, tantos a honrar, mas nesse post, eu queria dizer aos meus irmãos:

Obrigado, pessoal!

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