Filha, Nerdice e Várias Máquinas Mortíferas
Já foi dito que filho de nerd sofre muito. Pode ser verdade. Deve haver algum tipo de pressão na escola e é certo que há algumas confusões com a parentada toda. Ainda assim, filho de nerd se diverte mais do que sofre!
Minha filha de oito anos está morando comigo e decidi que já era hora de iniciar o processo de “nerdização” da pequena.
Ainda é cedo para Babylon 5, Star Trek e James Bond, mas ela já assistiu ao filme (embora ainda não tenha lido o livro) “O Guia do Mochileiro das Galáxias” (The Hitchhiker´s Guide to The Galaxy), de Douglas Adams, sabe quem é Humma Kavula, conhece Marvin, o robô maníaco depressivo, sabe que “42” é a resposta para a pergunta fundamental sobre a vida, o universo e tudo mais e até já comemorou seu primeiro Dia da Toalha!
Já vimos todos Star Wars e estamos a meio caminho na “Terminator, The Sarah Connor Chronicles”, telessérie de duas temporadas que acontece na mitologia dos filmes do Exterminador do Futuro, especificamente entre o segundo e o terceiro filme do cinema. Aliás, quem faz a Sarah Connor, mãe do John Connor na série, é a Lena Headey, atriz britânica que pode ser vista recentemente na maravilhosa série Game of Thrones, no papel da rainha Cersei Lannister, e só por causa dela já valeria a pena ver a série do Terminator, mas ainda tem a Summer Glau no papel de uma robô exterminadora!!! Isso é que é máquina mortífera!
Mas nem só de ficção científica vive o nerd. Não, o bom nerd acompanha a carreira de diretores de cinema e, por vezes, até de atores. Assim, em nosso cardápio aqui em casa, tivemos as quadrilogias de Duro de Matar e Máquina Mortífera.
Embora sejam filmes obrigatórios para quem quer entender o cinema de aventura, minha filha ponderou que os filmes da franquia Máquina Mortífera são melhores que a série do Duro de Matar.
E embora eu seja um fã do Bruce Willis desde a época da tele série “A Gata e O Rato” (Moonlighting) e ache que ele fez trabalhos fantásticos que vão do Sexto Sentido (Sixth Sense) ao maravilhoso e injustiçado “Surrogates” (ficção de novo!), sou forçado a concordar com ela.
Enquanto duro de matar é composto por filmes de ação pura, constante, frenética, às vezes comparável ao exemplo maior que foi o Caçadores da Arca Perdida, falta ao personagem de Willis, o policial John McClane, o parceiro constante. Nesse tipo de filme é o parceiro que cria o contra-ponto que expõe a humanidade e o crescimento do personagem.
E eu acho que isso nunca foi tão bem construído no cinema quanto na série Máquina Mortífera.
Mel Gibson vive o policial Martin Riggs, torturado pela morte prematura de sua esposa, e é agora um policial destrutivo e suicida. E Danny Glover no papel de Roger Murtaugh, é um policial das antigas, cuidadoso, metódico, severo pai de família, a poucos dias de sua aposentadoria.
Seguindo a linha do “bom policial, mau policial”, a história logo abandona os clichês e começa a criar padrões raros de se ver hoje em dia. O encontro (e confronto) explosivo dos dois personagens principais, antagônicos e, ainda assim, complementares, cria uma dinâmica perfeita que dá profundidade e tensão à história. O crescimento dos personagens, a chegada de novos integrantes à franquia e a saída, sempre violenta, de outros, cria um tipo de laço entre os participantes, um grau de familiaridade tão grande, que é difícil não se apaixonar pelos personagens. Por vezes, a trama interpessoal é mais interessante que os temas dos filmes e, acreditem, são temas ótimos!
A quadrilogia foi dirigida por Richard Donner, um de meus diretores preferidos e, agora, também de minha filha. (Ela gosta do James Cameron também, mas é assunto para outro post). Donner dirigiu os filmes definitivos do Superman, aqueles dois primeiros com o Christopher Reeve no papel principal. Dirigiu também “A Profecia” (“The Omen”. o original, não a refilmagem de 2006) e esse foi um filme que me aterrorizou sério quando eu era menino. É dele também “The Gonnies” e Ladyhawke, filmes que marcaram épocas e vidas.
Em Máquina Mortífera, ele explora profundamente o lado emocional de personagens tipicamente “rasos”. Cria personalidades interessantes e divertidas que acompanhamos, fascinados, as aventuras de personagens que mais parecem pessoas reais e conhecidas. Atores extremamente bons e uma direção pra lá de competente tornaram essa franquia um dos maiores e mais ricos êxitos cinematográficos da história. Emocional, familiar, divertido e rápido, em que até os romances são velozes.
Minha filha classificou o relacionamento dos dois personagens principais como um relacionamento de pai e filho, “mas cada um é pai e filho em horas diferentes.”
E é justamente essa habilidade em criar personagens críveis com personalidades realistas que nos mantém conectados à trama. Isso torna mesmo os personagens secundários, com pouco tempo de tela, igualmente apaixonantes. Minha filha me disse, a alguns dias, que estava com saudades do Leo Getz, personagem incorporado à série a partir do segundo filme, vivido por Joe Pesci. Foi também essa identificação que fez minha filha me pedir para encontrar o blog da atriz Traci Wolfe, que faz o papel da filha do Roger, Rianne Murtaugh. Se vocês entrarem lá, vão achar a conversa de minha filha com ela… (Não é legal como o mundo ficou pequeno?)
Dizem que o segundo filme foi escrito para que, ao final, o personagem Martin Riggs morresse. Se observarmos com atenção, fica claro que na cena final foram feitas outras filmagens, alterando o roteiro original, certamente pela possibilidade de um outro filme. Já no terceiro, a intenção foi no caminho oposto e é possível ver, durante todo o desenrolar da trama, que a história caminha para que Roger Murtaugh morra antes de se aposentar. Já o quarto e último filme é declaradamente uma comemoração à amizade dos personagens e mesmo o mais terrível de todos os inimigos por eles enfrentado (vivido pelo sempre ótimo Jet Li) não tem o poder de destruir esse grupo. O filme se encerra no hospital, onde filhos e netos dos personagens nascem ao mesmo tempo. Mel Gibson e o próprio Richard Donner já disseram que não haverá um quinto filme e, para mim, é a melhor decisão possível.
É talvez a melhor série de filmes que eu já vi. Sem desmerecer O Senhor dos Anéis e o Poderoso Chefão, é claro. Mas é uma série com começo, meio e fim, que nos mostra para onde foram os personagens e o que aconteceu com eles. Perfeita!
E não, não são filmes muito violentos para minha filha, não. Tem um certo grau de violência, mas nada que de alguma forma possa tirar o sono, provocar pesadelos ou gerar comportamento agressivo. São filmes bons de ver, com boas mensagens.
E minha filha tem visto os filmes com som original e legendas!!
Ser Nerd também é aprender outras línguas cedo e ler MUITO rápido!!
Comentários
Bem, Milena, você perdeu apenas a primeira onda!
Amigos nerds podem ajudar muito também!!