“O Plágio” ou “Como a Rede Globo Gosta de Fazer Homenagens”
O que você encontra, quando procura o vídeo comparativo no Youtube…
Há muito que se fala da crise criativa que a Globo vem passando. E sempre tem alguns para defender a postura da maior empresa televisiva do país. Eu até entendo que, no patamar que estão, todos ali têm medo de amargar um erro e ser banido, o que eventualmente acontece.
Eles acabam caindo em fórmulas de sucesso comprovado, sem muita preocupação com o que é mostrado, mas apenas com quem assiste, público cativo de longa data.
Na sexta-feira, dia 5 de agosto de 2011, foi ao ar pela Rede Globo, um capítulo da novela O ASTRO em que o personagem Salomão Hayala é atirado por uma janela, caindo para a morte.
A cena é, respeitando as proporções, idêntica à cena do filme Watchmen, onde o personagem Comediante é também assassinado atirado pela janela.
Como as cenas são iguais é claro que se falou em plágio. O Diretor da novela, Mauro Mendonça Filho saiu em defesa própria, alegando que aquilo era sim uma homenagem. Ele inclusive alega que deixou o botão da camisa de seu personagem Salomão cair em um referência direta ao bottom do Comediante. O diretor usou também as variações de velocidade nas cenas, característica principal do diretor de Watchmen, Zack Snyder.
Em uma entrevista que deu à UOL, Mauro Mendonça Filho se defende com declarações pra lá de esquisitas. O jornalista da UOL perguntou por que ele teria chamado de “chata” a “Patrulha de Originalidade” que o criticou as “referências” usadas por ele.
Mauro Mendonça Filho - Quando falo da “patrulha da originalidade” não quero dizer que sou contra a criação original. Falo desse movimento que vem da internet, essa coisa de não deixar passar nada de ninguém, (então “passou” alguma coisa…) de tudo ser comentado, dissecado e por vezes execrado. Também não sou contra a liberdade da internet, (Não? Esse depoimento é o que?) mas sempre onde há excessos, aparece a polícia, o clima de denúncia, de patrulha, que quando não atinge, soa até ingênua. A verdade é que todo o audiovisual trabalha com referências, seja filme, TV, comercial, clipe etc. É uma eterna cadeia. A própria cena do “Watchmen”, na qual me inspirei, vem de uma cadeia. Vou provar: sou fã absoluto do Alan Moore, não do filme, mas li a HQ umas quatro vezes. Veja o caso do personagem Comediante, o mesmo que é jogado pela janela. Ele foi inspirado em outro personagem de um quadrinho dos anos 1950, chamado Peacemaker. A associação Comedian/Joker (o Coringa do Batman), é fácil de ser feita. Esse Peacemaker foi provavelmente inspirado em algum Flash Gordon ou similar dos anos 30, que se inspirou em Meliés, que se inspirava na literatura infantil do século 19. Que nome dão para a cena da escadaria em “Os Intocáveis”, de Brian de Palma, totalmente igual à cena do “Encouraçado Potemkim” ou a “Dublê de Corpo”, do mesmo Brian de Palma, inspirado em “Janela Indiscreta”? Que nome dão para “Kill Bill”, que é totalmente igual ao original do Bruce Lee?
Então ele admite que trabalha com referências, tá bom. Mas ele comete alguns enganos terríveis aqui: ele sugere que o personagem Comediante foi inspirado em outros personagens. E isso pode mesmo ser verdade, mas o que era questionado era ele copiar uma cena, não um personagem!
Se ele é fã da revista e não do filme, como alega, por que plagiou justamente a cena do filme?
Agora, as comparações que ele faz com Tarantino e o mestre Brian de Palma, essas sim, parecem ingênuas. (E arrogantes! Eles está mesmo comparando seu “trabalho” com o deles?) Durante a produção do filme Os Intocáveis, Brian de Palma teria dito que havia escrito a cena da escadaria especialmente para homenagear seu filme favorito, o Encouraçado Potemkim. Ele falou isso ANTES do filme sair!
Quentin Tarantino havia dito que faria um filme em duas partes, no qual homenagearia os filmes de ação chineses e, em especial, o seu ator de ação favorito, o finado Bruce Lee. Tarantino falou isso antes sequer de saber o nome de seus filmes (Kill Bill 1 e 2) e antes mesmo de ter o elenco contratado.
Agora, o Senhor Mauro Mendonça Filho resolve “prestar uma homenagem” a um filme declaradamente nerd, que poucas pessoas que acompanham novelas conhecem e apenas admite a “homenagem” quando comparações e acusações de plágio aparecem.
Mais do que isso, aquela imagem ali em cima é o que você consegue se for ver o vídeo comparativo entre as duas cenas, a queda do Comediante e a de Salomão Hayalla. Mas se era uma homenagem, por que tirar da net? Não seria até uma promoção para o trabalho da rede e do diretor?
Então, para quem viu a novela e deseja fazer a comparação, o melhor que eu consegui (já que a Globo resolveu tirar da net a “homenagem”) foi a morte do Comediante. SE você viu a cena na novela, vai ter como comparar. A cena em questão está aos 02:05 minutos.
http://www.youtube.com/watch?v=836AE8f__BM
Ao mesmo personagem Salomão Hayalla foi concedida outra cena plagiada (ou homenagem) quando ele reserva um restaurante inteiro e violinistas tocam para ele e sua acompanhante. Essa cena, integralmente, foi retirada do filme ERA UMA VEZ A AMÉRICA, de Sérgio Leone. Até a música era a mesma…
Agora, mesmo que fosse possível considerar esse plágio evidente uma homenagem, a Globo insiste em permitir isso ao limite. Na novela O PROFETA, a personagem Marcos traz o “espírito” da personagem “Sônia”, que havia sido dada como morta, e esse espírito diz que “meu assassino está aqui”.
Essa cena foi completamente “chupada” do Filme O ILUSIONISTA!
Para além da posição de câmeras e toda a estética da cena, o preguiçoso do diretor roubou a solução brilhante do filme. Homenagem é uma coisa – se fosse homenagem –, mas roubar a solução final, o desfecho da trama, é preguiça, é falta de vergonha na cara, é o que a palavra “plágio” quer dizer, gostem eles ou não.
Essas duas cenas ainda podem ser comparadas, achei as duas no youtube.
A do ILUSIONISTA está dublada em espanhol, fica mais fácil de acompanhar. A cena em questão acontece aos 06:30 minutos.
http://www.youtube.com/watch?v=MZANQMeyf9k&feature=related
A da novela está no endereço abaixo, aproveitem que quando a Globo se tocar que tem gente comparando, ela retira para “preservar seus direitos autorais” (como se alguém fosse plagiar o plágio deles).
http://www.youtube.com/watch?v=jCAY5hIkcrY
Há quem diga que não há crise de criatividade na Globo. Quem defende esse conceito não tem observado a programação da emissora. Recentemente outra novela chegou ao final e a pergunta era “Quem matou Alguém?”. Quase todas as novelas da Globo acabam assim… Depois, uma lição de moral qualquer, algo que combata políticos ruins ou maus tratos.
Mas considerem, as duas novelas que eu citei nesse texto são regravações!
Não há mesmo uma crise de criatividade?
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