A Caixinha de Brinquedos

 

Toy-Boxes

João era casado com Maria há quase três anos. Eles formavam aquele tipo de casal que dá certo. Gostavam das mesmas coisas, iam aos mesmos lugares, tinham os mesmos amigos. Eles às vezes começavam a rir juntos, como se alguém lhes houvesse contado uma piada telepática. Sintonizados o tempo todo, 100%.

Quando o salário de um deles aumentou, resolveram fazer uma necessária reforma na casa, que compraram a um ano. Decidiram fazer toda a reforma de uma só vez. Diminuiriam os custos e ficariam fora de casa por um período menor.

Maria e sua mãe moravam em Brasília, de modo que combinaram com ela de ficar em seu quarto de hóspedes por um período não superior a dois meses, prazo máximo pedido pela empreiteira.

Como uma tia de Maria, irmã de sua mãe, estava passando uns dias na capital, vinda de Sergipe, a mãe pediu à Maria que aguardasse por mais uns dias, até que a tia fosse embora. Ficou tudo combinado para levarem a tia ao aeroporto logo de manhã e já providenciarem a mudança no mesmo dia, apenas roupas e objetos mais necessários.

A tia, uma senhora de quase 80 anos de idade, gentil e risonha, embarcou às 06:30 e às 07:00 João e Maria já cuidavam das próprias malas.

João sugeriu que não levassem nada muito grande, apenas as coisas que poderiam se perder ou serem danificadas durante a reforma. Praticamente todos os móveis ficaram, levaram apenas pequenos eletrodomésticos, como secador de cabelo, um abajur, joias, computador, todas as roupas, sapatos e sandálias, coisas do uso diário e miudezas (como álbuns de fotografia) que não queriam nas mãos dos homens que fariam a reforma na casa. 

Maria tinha uma caixa de brinquedos. E aquela não era uma caixa de brinquedos qualquer. Desde o período de namoro que João e Maria se presenteavam com pequenos brinquedos eróticos, com um par de dados com sugestões no lugar de números, baralhos com fotos eróticas, algemas cobertas de pelúcia, e várias outras coisas. Algumas, tão pessoais e reveladoras que Maria até tremia ao imaginar os pedreiros brincado com seus tesouros.

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Decidiu levar sua preciosa caixa para a casa da mãe. Ficariam no tal quarto de hóspedes, bastaria deixar a caixa bem escondidinha, não haveria problemas.

No armário embutido que havia no quarto de hóspedes, na casa da mãe de Maria, havia uma infinidade de coisas velhas que a mãe ia guardando com o passar do tempo: caixas de sapato, revistas antigas, roupas velhas, sacos plásticos, um verdadeiro depósito de inutilidades. Maria decidiu que ali seria o lugar perfeito para guardar sua caixa de tesouros. Para ficarem ainda mais escondidas, colocou suas preciosidades dentro de uma sacola de papel, obviamente deixada pela tia idosa, já que era de um shopping center de Sergipe.

Tudo arrumado, dormiu sua primeira noite na casa de sua mãe, em muitos anos.

Na manhã seguinte, tomaram café com a mãe de Maria, João fez um pão que todos gostavam e saíram juntos para o trabalho.

Às 10:00 horas da manhã, a mãe de Maria liga para a filha. Maria percebeu o estado histérico da mãe pelos gritos estridentes e a falta de coerência nas palavras.

_Venha aqui imediatamente! –Entendeu finalmente Maria, entre os gritos e soluços da mãe. Apavorada, ligou para João avisando que havia algum tipo de problema com sua mãe e que teria que voltar à sua casa. Ele pediu que ela desse notícias, ela prometeu e dirigiu o mais rápido que pode para a casa da mãe.

Ao chegar lá, a mãe estava no quarto de hóspedes. Maria sentiu um arrepio lhe subindo as costas.

Ao se aproximar do quarto, pode ver pela fresta da porta que o armário embutido estava aberto, grande parte de seu conteúdo espalhado pelo chão e dentro de caixas de papel, o que indicava que a sua mãe estava fazendo uma faxina. Um frio, quase uma dor, atingiu o estômago de Maria.

Ao entrar no quarto, Maria viu todos os seus brinquedos espalhados em cima da cama. Sua mãe, em pé, os braços abertos, as mãos apontando os objetos, subindo rapidamente para segurar a cabeça e depois apontando de novo. Maria sentiu uma vertigem e achou que iria desmaiar.

_Maria, você sabe o que é isso?? –Berrou, finalmente, a mãe, quebrando o silêncio como um tijolo arremessado contra uma vidraça.

_Mãe…

_Isso, Maria, é uma vergonha! Isso é a ruína de uma família, Maria. É isso que é!

_Mãe, eu posso explicar…

_NÃO!! Não tem explicação, não existem palavras pra explicar isso!!

Nesse momento, tudo que Maria queria era que o chão se abrisse para ela se jogar lá dentro. Mas a mãe, agora falando, não conseguia mais se calar.

_Eu nunca pensei que alguém fosse trazer essa podridão para dentro de minha casa!! Nunca imaginei!! Ainda bem que seu pai não está vivo, porque ele morreria se visse isso! Como ela teve coragem!!

_Mas mãe, eu posso explicar… ELA?

_Sim, sua tia!! Essa nojeira toda é dela, estava em uma sacola que ela esqueceu aqui!! Meu Deus, que vergonha!

_É mesmo, mamãe, que vergonha! –Gritou Maria. _Que velha safada!! Naquela idade!

_E agora? –Perguntou a mãe. _O que faremos com isso? Não quero nem pensar o que João pensará de mim se encontrar essa aberração pecaminosa em minha casa!

_Mãe, você tem razão, João não pode ver isso. Vai, vamos ajuntar tudo, que eu vou tirar de sua casa e jogar fora, bem longe daqui.

_Ah, minha filha, você faria isso para sua mãe? Eu não tenho coragem de colocar as mãos nisso.

_Pode deixar, mamãe, que eu livro a gente disso. E digo mais, vamos matar esse assunto aqui. Não vamos comentar com João nem com ninguém. Pense na vergonha que seria! Não vou falar nem com a Tia!!

_Sim, sim. –Respondeu a mãe. _Vamos agir como se não tivéssemos visto isso. Obrigada, minha filha, muito obrigada, não sei o que faria se você não tivesse vindo me ajudar.

Dessa forma, Maria, com luvas de borracha que sua mãe lhe obrigou a usar, recolheu todos os seus ricos brinquedinhos e os levou para a casa de uma amiga.

E foi assim que Maria e João passaram os dois meses mais sem graça de suas vidas.

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