A Criação de Um Cartão de Visitas
Sempre que começo um trabalho gráfico, procuro entender primeiro o que esse trabalho representa, o que ele quer dizer para as pessoas, e quem são essas pessoas, qual é o público alvo do trabalho.
Mas eu também sou fotógrafo, sempre gostei muito de congelar momentos mas quase nunca tenho a oportunidade de trabalhar dentro disso. Recentemente, andei pegando alguns trabalhos de books de fotos (na maioria mulheres grávidas) para fazer, e houve uma procura muito grande, o que me forçou a oficializar uma empresa.
Semana passada, decidi fazer um cartão de visitas para mim.
Queria um cartão que falasse um pouco do meu trabalho, mas queria evitar aquelas coisas bregas de colocar fotografia no cartão. E decidi também não usar imagem de máquina fotográfica. Queria algo atrativo e não apelativo, queria algo menos óbvio.
Acho horríveis esses modelos que mais parecem um flyer, uma página de revista, como esses da foto no começo desse post. Se dependesse de minha vontade, e dinheiro não fosse um limitador, eu faria meus cartões ou em algum material transparente ou em metal! Claro, um cartão desses fala por si, a arte ainda é necessária mas o diferencial está contido no material. Sem os recursos para bancar algo tão sofisticado, tive que fazer minha própria lição de casa…
Comecei a criação de meu cartão tentando esvaziar a mente de tudo que eu não poderia e não queria utilizar. Descartei a imagem da máquina fotográfica por ser óbvio e qualquer foto, por ser brega. Escolhi o nome “Atelier da Fotografia” pelo conceito de arte envolvido.
Imaginei que seria legal se o cartão fosse monocromático, para forçar a leitura, e que fosse feito em dois tempos, duas mensagens diferentes. Desde o início achei que seria legal o nome da empresa de um lado e os dados de contato do outro.
Monocromático parecia legal, mas por se tratar de um estúdio fotográfico, preto e branco agiria como um limitador. Achei por bem criar uma logo com alguma cor, algo bem sutil e delicado (já que meu mercado seria predominantemente feminino) e ainda assim associasse arte e fotografia.
Passei por várias tentativas frustradas, que envolveram pinceis, cavaletes de pintura e até, me envergonho em confessar, uma câmera fotografia. A resposta veio em uma conversa com minha mulher.
Nessa logomarca, eu tinha as referências que queria: arte, fotografia e o detalhe colorido. Fui então para o cartão.
Meu primeiro teste válido era monocromático e minimalista.
Decidi manter na frente apenas a logo e o nome da empresa e no verso os dados pessoais. Escolhi uma fonte simples e grande para facilitar a leitura, ligeiramente desfocada para arremeter diretamente para “fotografia”.
Ao fazer um “Test-Drive” do cartão, descobri um erro comum e fatal. Eu fiz o cartão para mim e não para o público-alvo. A letra é masculina, a logomarca está no centro, símbolos de imposição e força. Mas é um cartão de visita para mulheres grávidas!
Como eu havia gostado muito do cartão preto com as letras brancas, decidi manter o conceito. Dessa vez, com o mercado específico em mente, reduzi o tamanho da logomarca (diminuindo o “peso” do conjunto) desloquei o nome da empresa para fora do centro e mudei para uma fonte curva, sensual.
Eu pessoalmente achei que tinha ficado legal, mas o “test-drive” me alertou para outro fator: O cartão ficou feminino, delicado, mas sem passar a necessária confiança para as clientes. O visual ficou agradável, mas não sólido, não passou para as mulheres testadas a segurança de um bom trabalho.
Fui então para outra opção. Sem retirar a escrita cursiva, que tinha funcionado para o mercado e mantendo a logomarca pequena, escolhi uma fonte mais forte, com mais leitura, e ainda assim mantendo um pouco de delicadeza.
Não era a minha preferida e alguns “test-drivers” me falaram que parecia a fonte do “Príncipe da Pérsia”. Outra para o arquivo de “rejeitados”
Finalmente, cheguei em meu modelo final. Abri mão da facilidade de leitura, acreditando que, ao entregar o cartão a alguém, esse alguém já vai saber do que se trata. Mantive a fonte cursiva, mas mudei a inclinação de destra para sestra, incomum na caligrafia ocidental. Assim, mantive o contato pessoal que a fonte cursiva passa, aliada a delicadeza do traço fino e suave. Porém dessa vez, com um ar de inovação, firmeza e confiança.
90% dos “test-drivers” que me auxiliaram preferiram essa, e os 10% restantes eram homens.
Mais alguns pequenos ajustes (centralização do texto, corte curvo no canto superior direito [para compensar a diferença de peso a atribuir um pouco mais de estilo diferenciado] e aplicação de verniz em áreas específicas) e os cartões, meu e da Thâmara ficaram prontos, como podem ser vistos nas imagens abaixo:
O que o processo de criação sempre me ensina é que uma boa ideia nunca vem pronta, pelo menos para mim. Cultura é importante, para se saber o que está fazendo. Mas um pouco de pesquisa e teste é sempre muito necessário, quando se tem uma intenção específica e um mercado determinado.
Comentários