Desligaram o Último Stargate (ou “Mas Agora Eu Vou Ter Que Ver Zorra Total?”)
Em 1994 foi lançado o filme Stargate, de Roland Emmerich, o mesmo roteirista que depois dirigiria “Independence Day”, “Godzilla”, “O Dia Depois de Amanhã” e “2012”
Stargate foi um grande filme, lamentavelmente maior que seu sucesso. Reza a lenda que haviam continuações programadas que nunca chegaram a ser produzidas. Mas o filme tinha aventura, naves espaciais, romance, tiros. Boa ficção científica.
Assim, em 1997, estreia na televisão a série “Stargate SG-1”, continuando a história do filme com uma nova perspectiva. Com Richard Dean Anderson (o MacGyver [e não, ele não levou um tombo e ficou paralítico]) substituindo Kurt Russell no papel do Coronel Jack O´Neill, a série era talvez um pouco mais cômica que o filme, mas funcionava muito bem e ficou no ar por 10 temporadas, sendo cancelada em 2007.
Porém com a expansão da mitologia da série e o crescente interesse do público, aliado ao final prematuro de outra série de ficção científica, Enterprise, que deu sinais de cansaço desde sua primeira temporada e foi cancelada em 2005 (colocando um fim “temporário” ao maior franchising de ficção da história da televisão americana e deixando as caixinhas prateadas sem uma série de Star Trek – Jornada nas Estrelas pela primeira vez em 18 anos), os produtores de Stargate lançaram uma segunda série, “Stargate Atlantis”.
Essa lançada em 2004, também se tornou um sucesso equivalente ao SG-1, e por acontecer no mesmo universo ficcional, colocava constantemente os personagens de uma série na outra. Parece que o público gosta disso, eu gosto!
“Stargate Atlantis” acompanhava um grupo de cientistas que viaja para outra galáxia para estudar um gigantesca e imensamente moderna cidade, (a Atlantis do título) abandonada por seus criadores a muito tempo. Seguia, a rigor, a mesma dinâmica de sua predecessora. Dramas humanos, aventura, muitos tiros, um grande inimigo e um humor ácido e fácil.
Vendo que a franquia não dava sinais de desgaste, os produtores decidiram criar ainda uma terceira série.
Por uma condição puramente econômica (e certos de que a terceira série seria a consagração definitiva da franquia), optaram por cancelar Atlantis em sua 5ª temporada e usar todos os recursos econômicos na nova série. Assim, em 2009 Stargate Atlantis chegava ao fim e estreava “Stargate Universe”.
Com uma pegada mais adulta, com problemas maiores e sem os recursos infinitos das outras séries, essa realmente inovou.
A ação acontece dentro de uma nave espacial alienígena, onde alguns humanos, refugiados de um ataque a uma base Stargate, se escondem.
A nave está abandonada, não tendo condições para hospedar as quase 200 pessoas. Sem ter como retornar para a Terra, sem condições de pilotar a nave, sem comida, água e frequentemente sem ar, a tensão entre os grupos escala rapidamente para conflitos explosivos. Os militares de bordo “assumem” o comando da nave (e da situação), conflitando com os grupos dos políticos e dos cientistas, civis.
Tramas geniais, interpretações soberbas, diálogos bem estruturados, provavelmente uma das melhores séries de ficção (se não a melhor) que eu já assisti.
O nível de stress dentro da nave quase que nos fazia esquecer que era uma série de ficção, as soluções propostas sempre me deixavam por alguns segundos sem respirar.
Durante a primeira temporada, li muitas reclamações de fãs da franquia, que alegavam que Stargate Universe não era Stargate. E eu até entendo, a estrutura agora era outra, nada de piadinhas, nada de cavalaria no último momento, a coisa aqui parecia mais “real”, a diversão, como estávamos acostumados, havia dado lugar a um outro tipo de situação, algo que eu vi apenas algumas poucas vezes, no Jornada nas Estrelas e Babylon 5.
Stargate Universe é mesmo uma série mais escura, a mais densa da franquia, sem dúvida alguma. Pesada, incômoda, aquele tipo de filme onde o improvável (para séries de ficção) sempre acontecia, e ao final de cada episódio, eu ficava com aquela impressão de que o jacaré havia finalmente, e de novo, comido o Tarzan.
Ontem eu assisti ao último episódio de minha série favorita. “Stargate Universe” foi cancelada em sua segunda temporada.
Me doeu ver o final, eu e minha mulher protelamos para assistir, porque sabíamos que depois desse, não haveria mais.
E eles conseguiram um final tão digno, tão perfeito, tão coerente com tudo que havia acontecido até então, que me bateu até uma certeza de que, daqui a 3 anos (“um pouco mais ou um pouco menos”, como disse o Eli [pronuncia-se “ilai”]) eu vou ver a continuação da atitude que eles foram forçados a tomar, nesse último episódio.
Eu sei que muita gente não gostou, eu li muitos comentários e algumas “explicações” sobre o porque da série não ter conseguido audiência suficiente para se manter viável. Algumas “explicações” são bem coerentes, outras se aproximam da loucura absoluta, mas a grande maioria reclama da diferença entre essa série e as outras da franquia.
As pessoas, no geral, apenas queriam mais do mesmo.
E isso, “Stargate Universe” não tinha para dar. Na verdade, ainda tento digerir o que ela realmente me deu. E ponderar como vou olhar as outras séries agora.
Em seu lugar, na grade original do canal SyFy, vão ser veiculados um “reality show” e um campeonato (famoso por lá) de luta-livre.
Mais do mesmo. Diversão sem necessidade de pensar. Televisão para ver, apenas.
Posso dizer, com convicção absoluta, que foi uma das grandes séries da TV, uma das melhores. Acredito que o tempo vai honra-la e, como foi com o Jornada nas Estrelas original, em alguns anos haverão mais fãs do que hoje.
Parabenizo, na maior e melhor condição que um fã pode parabenizar, toda a maravilhosa equipe que nos deu essa série. Vocês foram honrados, respeitados, e serão lembrados com carinho e admiração.
Deixo a vocês meus melhores cumprimentos, e meu maior e mais honesto agradecimento:
MUITO OBRIGADO!!
Comentários
Eu fiquei vidrada com tua resenha da série e louca pra ver.
Esse fim de semana vou "torrar um amigo meu" pra mandar torrents pra mim... rsrs
Excelente post, me deliciei lendo!
Beijao
Eu fiquei muito tentada a ver essa série, meparece unica mesmo já que nao temos maís histórias tao bem elaboradas dessa forma!
Beijos! Excelente post!