Zumbis e Mortos-vivos

 400px-George_Romero,_66ème_Festival_de_Venise_(Mostra)George Romero, o “Pai dos Zumbis”

Em 1980, eu fui ao cinema assistir “O Despertar dos Mortos” (Dawn of The Dead). Era um filme de zumbis, mas na época, não era tão comum como é hoje em dia. Foi o primeiro filme do diretor, escritor, roteirista, ator e músico George Romero, que eu assisti.

Não que tenha provocado um grande impacto sobre mim, mas eu era moleque, tinha ido a Goiânia com outro amigo para ver esse filme, e decidimos passar a noite por lá, antes de voltarmos para Anápolis. Não porque tenhamos ficado com medo, ou porque estava de noite e escuro, só achamos que seria melhor ficar por lá mesmo, na casa de um amigo, verificar se não tinha nada em baixo da cama e dormir em turnos.

Era um filme de produção barata, maquiagem medíocre e direção meio frouxa, mas na época eu só via o exagero de sangue, pessoas mutiladas e pânico. E era um filme opressivo, daqueles de tirar a tranquilidade e o sono, ainda mais sendo você adolescente.

Por conta dessa impressão que me ficou, passei a acompanhar a carreira de George Romero. Tempos depois vim a saber que esse não era o único filme de zumbis que ele fizera, e sim o segundo.

(Pequena explicação sobre zumbis: Na mitologia criada por Romero, e seguida por quase todos os diretores a partir de então, uma epidemia mundial de origem desconhecida faz com que todos os mortos voltem a vida, sem memórias de sua existência anterior, sem dor, consciência ou remorso, com o único objetivo de comer carne humana dos vivos. Como no mito dos vampiros, a mordida de um zumbi é infecciosa e as pessoas mordidas morrem em poucas horas. E voltam zumbis!)

Em 1968, ele fez o primeiro, “A Noite dos Mortos Vivos” (Night of the Living Dead). Em preto e branco, o que deu um tom macabro e assustador para o filme. O mais legal, entretanto, é que a situação, por mais terrível que pareça, pessoas isoladas em uma casa, sob o constante ataque dos comedores de carne humana, não é a trama principal. Todo o drama dos zumbis é o pano de fundo para medir a condição humana sob um tipo descomunal de stress. O filme é um estudo sobre até onde o homem permanece humano, quando ameaçado. Em um determinado momento, é mais fácil entender a atitude amoral, extremamente agressiva e destrutiva dos zumbis que as escolhas e decisões tomadas pelos humanos.

Em 1990, George Romero regravou “Night of the Living Dead”, agora em cores e com mais recursos de maquiagem e efeitos especiais. Manteve o mesmo roteiro, mesmos personagens e praticamente a mesma história, Perdeu um pouco do charme, mas é um filme competente, em se tratando do tema em específico.

No total, foram 6 filmes, que seguem um tipo de ordem cronológica, sendo que desses, 2 tiveram regravações. Romero até aproveitou a onda dos filmes feitos em primeira pessoa, que se tornaram conhecidos com o esquisito e nauseante “A Bruxa de Blair”, e criou “Diary of the Dead”, que narra a história de um jovem estudante de cinema, fazendo uma reportagem no início na praga dos zumbis.

Existe também um outro filme de Romero, feito em 1973 e chamado “The Crazies” que, embora não faça parte da cronologia dos zumbis, meio que estabelece uma origem para o evento. Regravado em 2010 esse novo “The Crazies”, por fugir da métrica criada pelo próprio Romero para seus zumbis, se torna um filme muito mais intrigante e desafiador que a maioria dos componentes da série.

imgland of the dead4Zumbis se armando! 

Bem, o que eu queria comentar é que ontem eu estava re-vendo “Land of the Dead” de 2005, 4º filme da sequência de Romero, protagonizado por Simon Baker (O Patrick Jane, da série “The Mentalist”),   John Leguizamo e Dennis Hopper, falecido em 2010. Neste filme, a situação com os zumbis já ocorre a algum tempo, prédios de luxo se tornaram refúgios de milionários e pequenos exércitos mercenários trabalham como fornecedores de bens de consumo para os ricos. Nesse universo caótico, alguns soldados percebem que os zumbis começam a desenvolver um tipo primário de organização, que vai desde a auto-preservação até o aprendizado de utilização de ferramentas.

E armas.

Em uma determinada cena, os zumbis decidem, pela primeira vez, enfrentar sua limitação geográfica e se atiram no rio, tentando chegar à costa, onde estão os prédios e a fonte de alimentos. É assustador e surpreendente ver os mortos-vivos emergirem, um a um, do lado habitado do rio, por entre as águas escuras, iluminadas por um luar pálido. Momento clássico do terror pós-moderno.

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