Pequena Parábola Sobre Maturidade ou Como Se Ferrar Por Escolha Própria E Ser Burro O Suficiente Para Não Perceber

Eram dois jovens, uma menina de 14 anos de idade e um menino de 15. Ambos já tinham tido pequenos relacionamentos, mas nada muito sério.

Ele era um menino determinado, forte e bonito.

Ela era uma menina frágil, delicada e simpática.

Todos achavam que eles faziam um par perfeito.

Eles também achavam.

Mas a menina tinha uma  característica pessoal muito peculiar. Ela descobrira, quando ainda era uma criancinha, que um olhar pidão e uma gemidinha faziam com que as pessoas concordassem com ela.  Ela não precisava ser bonita ou forte como o namorado. Era até melhor que não fosse. Ela entendeu que se parecesse fraca e sempre em necessidade, as pessoas a ajudariam sempre, teriam pena dela, tomariam conta dela,  gostariam dela.

E era assim mesmo! Ela tinha fome e dizia:

”Fominhaaa….” – Com aqueles olhos pidões e desprotegidos. Era impossível resistir à tentação de fritar um ovo pra ela.

E ela falava: “Barata….” –e dezenas de chinelos apareciam, para proteger a pobre e linda menina em constante necessidade.

Ela via televisão e na telinha aparecia o Monstro do Biscoito da Vila Sésamo, ela se assustava, ligava para a mãe e dizia:

”Monstrinho…”  - E a mãe a acalmava, como toda mãe acalma o filho frágil…

Tá, ela adoecia de vez em quanto, tinha que adoecer. E perdeu um pouco de peso, porque comia pouco e porque, magrinha, parecia ainda mais desprotegida.

O namorado podia achar estranho (e talvez até um pouco inconveniente) ela ter medo de estátua de mármore e orvalho, borboletas e capim alto, pinturas rupestres e sol, mas ele a amava, e também amava saber que ela precisava dele, dependia dele. E, de uma certa forma, mesmo sem saber, o namorado até a mantinha  assim, fraquinha e desprotegida, porque dessa maneira ela precisava dele, e ele se sentia necessário e insubstituível, e era gostoso proteger a menina que ele amava.

Dessa forma, com os dois dentro de um sistema que se auto-alimentava, eles foram levando aquela paixão co-dependente.

Mas, o que nenhum dos dois tinha previsto era que esse tipo de sistema possui uma grande falha: A Natureza Humana!

Enquanto a namorada invertia o processo evolutivo humano, para ganhar a atenção merecida e desejada, o namorado, mesmo gostando de ser protetor e ter uma namorada-de-estimação, continuou na trilha do crescimento social e humano.

Com isso, o namorado, mesmo sem querer ou ao menos saber, evoluiu! Conheceu outras pessoas e ficou curioso sobre elas.

Conheceu gente que sabia tomar banho sozinha e que não tinha medo do escuro. Conheceu gente que o ajudava a fazer as coisas, mas principalmente, conheceu gente que, ainda que em quantidades homeopáticas, cuidava dele!

E ele gostou disso!

E, ao descobrir que gostava de igualdade, percebeu o quão cansativo e unilateral era seu namoro. Percebeu que parte de sua vida, uma parte realmente importante, estava estagnada, enquanto que todo o resto crescia, fervilhava e melhorava. Descobriu, ou passou a acreditar, ou apenas finalmente entendeu, que sua namorada precisava de algo que ele não tinha mais para dar. Ela precisava “permanecer” e ele passou a amar “evoluir”.

Depois de seis anos de namoro, ele tinha agora 21 anos de idade, e sua namorada os mesmos 14, talvez até um pouco menos.

No dia do aniversário de namoro, o namorado, triste, deu para a namorada um gentil e fraco chute na bundinha branca e magricela dela.

A partir de então, ele passou a ter uma vida plena e feliz, cresceu, adquiriu maturidade e se tornou um homem de valor e um ótimo amigo, e todos acham que quando ele se casar, será uma marido exemplar e um pai perfeito.

A namorada, por nunca ter aprendido como é crescer, e por nunca ter visto a necessidade disso, aceitou seu destino e foi chorar no colo da mãe. Que, imediatamente, lhe fez um chazinho de erva-cidreira, com pouco açúcar, para a filhinha não enjoar.

Os amigos dela também conhecem o seu futuro, todos sabem como ela será, e por mais piedade que sintam por ela, a maioria vem se afastando, porque no final, todo mundo tem algo novo para fazer.

Ela entretanto continua miando pelos cantos, esperando outro namorado de 15 anos aparecer.

E isso, é o fim.

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