De Drácula ao Crepúsculo

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Esse texto não deveria estar aqui.
Ele foi escrito para ser editado em uma revista mas, pela quantidade de linhas, ficou inviável para publicação em papel. Mas eu, como muitos outros autores, desenvolvo uma paixão pelos meus escritos, e me recusei a apenas engaveta-lo.
E assim sendo, aqui está:

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De Drácula ao Crepúsculo
Vampiros na Cultura Popular

Quando o matemático irlandês Bram Stoker publicou, em 1897, seu livro Dracula, nem de longe ele podia imaginar o impacto que sua história teria nas pessoas durante os próximos séculos.

Compilando dados de mitologia egípcia com personagens europeus reais e impressionado com os efeitos da "porfíria" [1] o autor criou um dos mais conhecidos monstros da literatura.

Não que ele tenha sido o primeiro autor a escrever sobre vampiros. O alemão Goethe compôs um poema vampiresco chamado A Noiva de Corinto (1797) e Joseph Thomas Sheridan Le Fanu, escritor irlandês, escreveu o seu Carmilla 25 anos antes da publicação de Dracula.

Com a morte de Bram Stocker, em 1912, começou uma complicada negociação dos direitos do livro para sua adaptação ao cinema entre a família do autor e o diretor alemão Friedrich Wilhelm Murnau. Essa talvez tenha sido a primeira tentativa de se adaptar um livro contemporâneo à nova expressão artística: o cinema. Ao fim de 10 anos de uma negociação infrutífera, F.W. Murnau filma Nosferatu, a primeira película sobre vampiros do cinema e também a denúncia do primeiro roteiro plagiado. E com razão, uma vez que Murnau usou a história de Stoker como roteiro, trocando apenas os nomes dos personagens [2] .

Nas décadas de 1950 a 1970, os estúdios britânicos Hammer mantiveram o fascínio público pelos vampiros com uma interminável série de filmes sobre Drácula, com o eterno e estigmatizado Christopher Lee (que viveu também o Mago Saruman no épico O Senhor dos Aneis e o Conde Dooku [Dukan, no Brasil] na nova saga de Guerra nas Estrelas).



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Christopher Lee

No final dos anos 1970, as histórias de terror haviam perdido seu brilho. Com a chegada do homem à Lua, em 1969, e o fim da guerra do Vietnã, em 1975, o estilo dos filmes mudou drasticamente e, fora um produção independente ou outra, os vampiros sumiram das livrarias e cinemas.

Em 1976, a escritora americana Anne Rice lança Entrevista Com o Vampiro (publicado no Brasil pela Editora Rocco, com tradução de Clarice Lispector), primeiro livro da saga intitulada As Crônicas do Vampiro, que já vendeu mais de 100 milhões de exemplares no mundo todo e que trouxe a lenda de volta ao gosto popular.


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 Anne Rice

A indústria do cinema, percebendo a volta do estilo, começa a produzir dezenas de filmes de baixo orçamento e nesse período acabam por criar ótimas histórias, como The Lost Boys (Os Garotos Perdidos, 1987), com direção de Joel Schumacher e com Keifer Sutherland (O agente Jack Bauer da série 24 Horas) como o líder dos vampiros ou o filme country Vampires (Vampiros, 1989), de John Carpenter, com James Woods e Daniel Baldwin.




         Keifer Sutherland

Mas foi o Mestre Francis Ford Coppola (diretor da saga O Poderoso Chefão e Apocalypse Now), com seu Drácula de Bram Stoker (1992), trouxe de volta o fascínio dos vampiros ao cinema, em uma super produção visual. O filme, fiel ao extremo ao livro original, contava com Gary Oldman, Anthony Hopkins, Keannu Reeves, Winona Ryder nos papéis principais e foi feito mais como um romance que como um filme de terror.


O sucesso do filme de Coppola permitiu que o primeiro livro de Anne Rice fosse para as telas, e Entrevista com o Vampiro teve seu lançamento mundial em 1994, sob a direção de Neil Jordan, com um elenco de estrelas que incluía Tom Cruise, Brad Pitt e Antonio Banderas.

Anne Rice não foi muito feliz com suas obras seguintes, apenas mais um livro foi adaptado para o cinema: A Rainha dos Condenados (também publicado no Brasil pela Editora Rocco), que embora seja um livro talvez melhor que o Entrevista com o Vampiro, gerou um filme medíocre, que, aparentemente, encerrou o caminho cinematográfico da saga. Ainda assim, os vampiros estavam de volta, com força total.

O estilo avançou pela Europa e o novo cinema russo produziu duas obras primas sobre o tema. Com roteiros e direção de Timur Bekmambetov tivemos em 2004 e 2006, respectivamente, Guardiões da Noite (Night Watch, do original em russo Nochnoy Dozor) e Guardiões do Dia (Day Watch, do original em russo Dnevnoy Dozor), que de certa forma, reinventam a mitologia dos vampiros e são considerados filmes essenciais para quem se interessa pelo tema.

 

Séries para TV, que foram desde dramas adolescentes como Buffy, a Caça-Vampiros (1997-2003), passando pelo violento Blade (1997-2007), vindo dos quadrinhos e com 3 encarnações para o cinema, com Wesley Snipes no papel-título) até os atuais True Blood (2008) e Vampire Diaries (2009), expandiram o universo dos vampiros, mudando o modo como os espectadores encaram o mito.


Recentemente, os livros que compõem a saga Crepúsculo (2005, lançados no Brasil pela Editora Intrínseca), da autora americana Stephenie Meyer, foram negociados para produção cinematográfica e se tornaram um sucesso absoluto no mundo todo, principalmente entre os adolescentes. A autora, seguindo o exemplo de outra famosa escritora de sucessos adolescentes, J. K. Rowling e o seu Harry Potter (livros lançados no Brasil pela Editora Rocco), criou paralelos entre a condição de seus personagens vampiros com os dilemas naturais dos adolescentes, fazendo com que os leitores jovens se identificassem com a trama. Justamente em conseqüência dessa visão comercial a mitologia dos vampiros sofreu uma grande mudança, invertendo a condição de maldição das criaturas originais para um tipo de monstros heróis e apaixonados, sem limitações religiosas (que eram representadas por cruzes, padres e igrejas) ou mesmo cancelando condições absolutas, como sensibilidade ao Sol.

Os dois filmes já lançados, Crepúsculo (2008) e Lua Nova (2009), se tornaram estrondosos sucessos de bilheteria e mais três livros da autora já foram negociados para adaptação para o cinema, sendo que o terceiro da série, Eclipse, já tem data para o lançamento: 30 de junho de 2010.

No Brasil, o escritor paulista de Osasco, André Vianco, é quase um milagre em termos literários. Seu primeiro livro sobre vampiros, Os Sete (1999, lançado pela Editora Novo Século), já vendeu apenas no mercado interno mais de 50 mil exemplares, uma proeza digna de um Paulo Coelho. Autor de vários títulos, sua saga de vampiros inclui Sétimo e O Vampiro Rei e tem seu início quando, nos dias atuais, pescadores do litoral brasileiro encontram os restos de uma caravela portuguesa onde jazem adormecidos vampiros medievais, agora livres.

 

Vianco criou histórias sólidas, com personagens bem desenvolvidos. Hoje ele tem planos de adaptar seus escritos para cinema e televisão, mas enquanto isso não acontece, são livros que merecem ser lidos, não apenas por serem obras ímpares em nosso país, mas principalmente por serem boas histórias de vampiros.


 

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[1] Doença conhecida na Idade Média, que se caracteriza por palidez, retração e sangramento das gengivas, hiper-sensibilidade à luz do sol e que tem hoje como tratamento injeção de hemácias, mas que era tratado naqueles dias, com ingestão de raspas de ferro, carne crua e sangue.

[2] Existe um ótimo filme chamado A Sombra do Vampiro (Shadow of the Vampire), produção americana do ano 2000, na qual o sempre excelente John Malkovich interpreta o papel de F. W. Murnau e o assustador Willem Dafoe atua como o Conde Orlok/Nosferatu. O filme narra, de forma fantasiosa, a produção desse clássico.

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