Twitter Burro


Respeito muito as novas tecnologias de comunicação, e com esse terrível drama que o Haiti está passando, o Twitter se mostrou uma ferramenta poderosíssima.

Mas eu demorei um pouco para começar a usar o Twitter. Isso porque demorei para entender a função dele. Me parecia apenas mais uma ferramenta fútil pra suprir uma necessidade crescente de fofoca.

Depois, descobri algumas qualidades legais nele mas nem todos os dias existem catástrofes, mas ainda assim a cada minuto tem alguém escrevendo uma bobagem no Twitter.

Acho incrível que uma tecnologia que pode ajudar tanto, como nessa catástrofe em Porto Príncipe, que uniu famílias, acalmou aflições, pediu e enviou socorro, pode também ser usada tão maciçamente para grandes idiotices.

Embora eu ache que o que me chateia no Twitter seja justamente a fase que o planeta está passando, na qual as pessoas se sentem iguais e isoladas, e isso acaba produzindo essa necessidade gritante de falar sobre sí e saber sobre a videa alheia. É sempre constrangedor entrar no Twitter e encontrar mensagens como "Acordei".

De verdade, será mesmo que a pessoa que posta uma mensagem informando que acordou acredita estar comunicando algo importante? Ou estamos nos tornando inúteis na mesma proporção que inutilizamos (ou mal utilizamos) boas tecnologias?

O mais espantoso no Twitter, para mim, é o fato de as pessoas não se importarem em mostrar seu lado inculto, despreparado.
O Twitter, como um blog ou um Curriculum Vitae, fala para quem lê sobre a pessoa que escreve. O que tem ali é a expressão íntima de quem escreve. O que tem no seu Twitter é você.

E como tem gente vazia por aí, achei isso realmente alarmante.

E não me entendam errado, não sou nem me acho um génio do Twitter. Minha utilização dele é bem básica, apenas para informar sobre posts novos nos meus blogs, vez por outra para cumprimentar um amigo que não vejo há muito tempo, ou dar algum pitaco ou responder algum outro comentário.

Sigo alguns atores, roteiristas e diretores de quem gosto, para saber o que anda acontecendo lá fora. Sigo alguns amigos, sigo O Criador e o Kibeloco, porque dou sempre boas risadas por conta deles.
Mas minha utilização não é profissional, mesmo!

Mas nem por isso, tem que ser banal. Às vezes entra um coitadinho e escreve 20 mensagens completamente idiotas, como "Cheguei", "Agora vou trabalhar", "Calor hoje", "Preguiça". E não é só o infeliz imaginar que isso é relevante ou interessante para qualquer pessoa no planeta, mas pela estrutura gráfica do Twitter, um cara desses empurra um monte de outras mensagens para fora da página.

Não estou censurando, cada um pode ser bobo na medida que achar legal, mas não dá pra ser bobo várias vezes em uma única mensagem? Tem mesmo que fazer 20, com uma ou duas palavras em cada?

Outros escrevem letras de música, que certamente tem alguma relevância para eles no momento que escrevem. Frases enigmáticas que não fazem sentido para ninguém além de para quem escreve estão sempre por lá, acho que um desvio psicológico qualquer faz o escritor achar que isso o torna "culto", "clean" ou "misterioso".

Alguns gostam de mostrar a própria "cultura" citando nomes e fatos com pequenos detalhes despresiveis. Parece que alguns acham que se souberem o nome do meio do Hitchcock ou a capital do Azerbaijão, ou a salinidade do mar Cáspio, isso os fará serem vistos como "cultos". Gente, isso tem na Net, provavelmente onde vocês acharam! Quem quiser saber vai fazer a mesma pesquisa que vocês fizeram!

Mas o que realmente me alarma é como algumas pessoas se queimam, sem notar. E como é difícil manter o respeito por essas pessoas depois disso.

Como gosto de cinema e televisão, acompanhava uma conversa entre dois jornalistas locais. Um comentava uma série de comédia americana que trata da vida de nerds, "The Big Bang Theory". Como é uma série de nerds, existem quantidades enormes de referências a outras séries, ficção cientifica, quadrinhos, cinema... É uma série divertida, mas que pode ser muito mais bem aproveitada se você tiver um conhecimento maior sobre o mundo nerd.
Um dos jornalistas comentava a série, de forma elogiosa. Comentava que gostava muito e citou um determinado capítulo, onde são feitas várias referências a maior franquia de ficção científica da América, Star Trek (que no Brasil ficou conhecida por Jornada nas Estrelas). Não que seja necessário conhecer 40 anos da franquia para entender as piadas, mas ajuda se você souber do que eles estão falando.
A jornalista, ao comentar o tal episódio disse que havia "muitas piadas do Star Wars, ou alguma coisa assim..."
Star Wars, obra de George Lucas da década de 70, conhecido no Brasil por Guerra nas Estrelas, não era o filme citado no episódio.
E me dirão que isso não faz a menor diferença, mas faz sim.
Não é só a pessoa se demonstrar ignorante em um sistema de informação massiva, onde centenas, talvez milhares de pessoas venham a ler.
Não é só fazer pouco caso da informação que disponibiliza, como se a própria opinião não tivesse importância.
O problema é um jornalista, uma pessoa conhecida, que está na mídia, que supostamente deveria nos informar, não se dar ao trabalho de verificar o que fala. Alguns profissionais esquecem ou desconhecem a responsabilidade que tem.
Se um leigo fala a mesma coisa, não há um peso muito grande, mas um jornalista, uma pessoa que pela natureza de seu trabalho se supõe ser informada, gente, é assustador!

Tratam a informação como se ela não tivesse valor algum, embora seja a utilização, a divulgação dessa cultura que pague suas próprias contas. E pior, demonstra aos que lêem o quão pouco profissional e desinformado um "agente informador" pode ser.
E, ao não preservar sua imagem, uma outra emerge, essa mais real e desvinculada dos roteiros prontos e pesquisas de outros jornalistas.
Nessa condição, o jornalista passa de pesquisador e informador culto a rostinho bonito sem conteúdo, que tem a função de informar, perante as câmeras, a cultura e a opinião de outras pessoas.

O Twitter não é só uma fonte de ajuda humanitária ou de fofoca social.
É também uma ótima fonte para análise de cultura, conhecimento, compromisso e responsabilidade de profissionais. E acreditem, nem sempre isso é bom para o referido profissional.

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