Religião, Ateísmo, Deus e Eu.

flocos de neve1 No começo, bem no começo de minha vida, imagino que eu era católico. Minha mãe é, minhas tias também e como morávamos todos bem próximos, os programas de domingo eram sempre compartilhados, e sempre tinha igreja neles.
Não me lembro de meu pai indo à igreja, o que não quer dizer que ele não fosse. Mas acho que não era muito freqüente.

Me lembro de ir algumas vezes, principalmente com minha mãe e tia. Fiz primeira comunhão, com cursinho e tudo! Mas era uma coisa de embalo, não era uma vocação nem uma necessidade interna, acho que nunca cheguei a entender a coisa toda.

Me lembro de minha primeira discussão teológica, quase uma Jihad, que aconteceu entre eu e minha mãe, quando, por causa de uma namoradinha, eu fui a uma igreja evangélica. Minha mãe discutiu comigo, que eu era católico e que tinha que ficar dentro da minha religião. Falei algumas coisas ruins para ela, que hoje me envergonho de ter falado, mas foi o primeiro impacto grande que a religião teve sobre minha vida.

Tenho um amigo, meu amigo desde a adolescência, ele é espírita. Toda a sua família, pelo que sei, compartilha a mesma religião. Eles são Kardecistas, que são os espíritas que seguem os ensinamento de Alan Kardec. Através dele aconteceu meu primeiro contato com essa crença. Se a teoria espírita estiver certa, se for verdadeira, eu acho que vou ficar feliz.

Não que eu seja espírita, não sou mesmo. Mas gosto do conceito.

Esse meu amigo, durante uma passeio de carro pela cidade, viu um padre que atravessava a rua, carregando uma grande garrafa de vinho. Meu amigo colocou a cabeça para fora da janela do carro e gritou:

_Aí, padre, vai encher a cara!!

Imediatamente eu disse a ele:

_Cara, você vai para o inferno! Você sacaneou um padre!!! Vai para o inferno!!!! – Ele riu e disse:

_Não, eu sou espírita, nós não acreditamos em inferno. Mas se o padre ficar zangado, vai criar um karma ruim para ele mesmo!

Então, mais importante que a verdade, é a crença. Se eu “acreditar” em alguma coisa, ela passa a ser real para mim. Bem, para mim, não. Mas é assim que a religião funciona, não é?

Eu vi uma reportagem na televisão um dia desses, onde o jornalista tentava definir se um vídeo (onde apareciam uns supostos “fantasmas”) era real ou não. Ele concluiu que, com todos os recursos que temos disponíveis hoje em dia, é quase impossível determinar se uma imagem é verdadeira ou não. Algumas imagens podem ser identificadas como falsas, outras não. Mesmo algumas falsas, não podem ser comprovadas como tal.

Assim, tudo que nos resta é a crença, nós decidimos se vamos acreditar ou não naquelas coisas difíceis ou impossíveis de serem provadas. Religião é fé, fé é crença, e eu preciso de dados sólidos para crer. Então, eu acho, minha fé é materialista. Tenho fé na ciência, no conhecimento, na matemática. Nas coisas que podem ser provadas. Respeito as palavras de Cristo e Buda, respeito a filosofia espiritualista, mas sem provas físicas, elas continuam sendo apenas filosofias, não fatos. É preciso que se acredite, para que elas se tornem reais. Alias, quando Nietzsche falou sobre a crença e a necessidade da crença, todo mundo entendeu errado e disse que ele tinha matado Deus, coitado.

Tem uma tirinha do Calvin & Harold, de Bill Watterson, que define isso com clareza para mim.

calvin


Então, baseado nessa filosofia, eu desenvolvi uma maneira de viver bem e morrer bem. Porque, ou existe vida após a morte ou não existe. E eu posso acreditar nisso ou não. Então, SE existe vida depois da morte e eu acredito, estou seguro. SE não existe e eu acredito, mal não faz. Se eu não acredito e não tem, tudo bem também. Agora se eu não acredito em vida depois da morte, religião e Deus, e isso tudo realmente existe, eu estou enrolado! Então, a boa é acreditar e pronto!

Assim, acho que a melhor maneira de se levar a vida é: Viva como um espírita, sem medo de fazer as coisas erradas, sem temer o inferno. Vida para sua própria satisfação, sabendo que depois que morrer, vai poder nascer de novo e corrigir os erros da vida passada. Agora, quando for morrer, na hora da morte, você deve mudar de religião, se tornar católico e se arrepender de tudo que fez errado na vida. Os católicos acreditam que se você se arrepender, todos os seus pecados são perdoados e você vai para o paraíso!!! Problema resolvido!!!

Mas, de uma forma prática, eu acho que devemos seguir pelo menos as velhas leis dos “10 Mandamentos”. Aquelas regras são boas de seguir, vou explicar: Quando você evita “roubar”, “matar” e aquelas todas, não só você está seguindo a vontade de Deus como está dentro da lei dos homens. Porque se você rouba e mata, vai para a cadeia. Se tiver Deus, você vai estar encrencado com ele, porque quebrou as Leis dEle. Se não tiver Deus, você vai para a cadeia e passa sua única vida preso!

Respeitem os “Dez Mandamentos”!!

Para mim, dentro de minha cabeça, deve existir um Deus, o universo é complexo demais para não ter algo que ordene tudo isso. Mas meu conceito de Deus é talvez um pouco pessoal demais. Eu acho que Deus é uma força matemática, acho que os milagres são fatos físicos que a ciência ainda não conseguiu explicar. Não acho que Deus intervenha diretamente na vida das pessoas, mas pelo contrário, ele deixa que cada um crie seu próprio caminho. Para mim, o que Deus faz é criar, ele é a fórmula do DNA, ele é a “Regra dos Seis” ou “Proporção Áurea” na natureza, imagino que Ele seja a própria natureza.

Difícil explicar isso, sem ter visto com atenção um planta crescendo, um filho aprendendo a andar, um floco de neve, uma nuvem de chuva, água escorrendo pelo ralo… Tudo na natureza é interligado, compartilha a mesma proporção, isso tem um planejamento, é sofisticado demais para ser obra do acaso.

Então, por esse parâmetro, eu sim, acredito em Deus. Só acho que o meu Deus é mais inflexível que o Deus dos outros.

Mas digo com segurança, se quer acreditar em Deus, o fim da vida é o momento ideal!!!

Comentários

Unknown disse…
texto muito legal. faz a gente parar pra pensar em um bando de coisas. Acredito em Deus.. nasci catolica e sou inclinada ao espiritismo... mas acredito em Deus, seja qual for a casa dele... no poder da natureza.
Pra mim a unica regra e faca o bem e aproveite o que esta vida lhe oferece sem fazer mal a ninguem.
abracs
Flávio de Sousa disse…
Ah ah... esse é um tema sempre divertido! Ao menos para mim.

O que mais gosto é que o assunto não suporta relativismos se os interlocutores forem sinceros -- passei eras escondendo meu ateísmo por trás de um agnosticismo politicamente correto. Ou seja, um prato cheio para gosta de exercitar habilidades retóricas e dialéticas.
... Abração!
Unknown disse…
Parabéns pelo texto, bem elaborado. Para fugirmos do fanatismo, as vezes temos que criar alternativas de crença, assim como fez o nosso amigo Nietzsche.

P.S. Se tiver um tempinho visita o meu blog: http://opensadortorto.blogspot.com.br/

Abraço

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