Irréversibile
Gosto muito de cinema. Com o passar do tempo, fui aprendendo sobre linhas de criação, intenção dos diretores, comércio e criatividade na indústria cinematográfica.
Sempre respeitei muito a originalidade e a criatividade, Matrix e O Efeito Borboleta, por exemplo, são idéias originais que funcionaram muito bem.
Aceito também que uma idéia original pode não gerar um bom filme, como Linha do Tempo ( Timeline, do livro homônimo de Michael Crichton, recentemente falecido e um dos melhores autores de ficção científica de todos os tempos), que enquanto livro foi um campeão de vendas, mas no cinema afundou como o Titanic (o navio, não o filme).
Bem, acabo de perder 99 minutos de minha vida com o filme Irréversibile, de Gaspar Noe.
Gente, o filme não é só muito ruim. É de uma arrogância, de uma falsa qualidade, de uma mediocridade tão grande, que estou me sentindo pessoalmente agredido e ofendido!
Muita gente disse que devido a uma cena de estupro que tem no filme, as audiências tendem a desgostar da película.
Não é isso, o filme além de péssimo e excessivamente agressivo e absolutamente sem propósito.
Poderia falar muito tempo da falta de qualidade desse medonho exemplo de cinema, mas decidi publicar aqui o e-mail que mandei para o Sr. Gaspar Noe, roteirista e diretor do filme, nascido argentino e atualmente fazendo esse tipo de coisa na França.
”Prezado Sr. Gaspar Noe.
Acabo de assistir seu filme "Irréversibile" e me sinto na obrigação de fazer alguns comentários e expor algumas idéias.
Narrar um filme de trás para frente, mostrando a última cena antes da primeira é realmente um recurso muito interessante. Mas ter o desejo de fazer algo assim, não o torna Christopher Nolan ou faz de seu filme um novo "Memento".
Para que uma história assim funcione, é necessário um bom roteiro, que o Sr. Nolan tinha, e você não.
Mesmo a melhor oportunidade de seu filme, que seria mostrar a vingança antes de conhecermos a razão dela, se perde em diálogos pobres e cenas excessivamente violentas que não acrescentam nada ao roteiro quase inexistente, e servem apenas para atingir o espectador no estômago.
Sr. Noe, quando um diretor resolve acertar o expectador no estômago, é justamente porque não teve capacidade ou intenção para acerta-lo na cabeça.
A cena de estupro, tão comentada, apenas mostra sua inépcia em montar um filme que proponha um debate sobre o tema.
Muitos filmes mostraram níveis de violência iguais e mesmo maiores, como qualquer "Sexta-Feira 13" ou "Massacre da Serra Elétrica".
Então, na intenção de mostrar violência, o senhor não fez o melhor que se poderia fazer. Na intenção de denunciar uma situação social, muito menos, já que seu filme se perde na própria trama, sem amarrar qualquer tipo de sentido, lógica ou consequência.
Finalmente, o senhor comentou, feliz, em entrevista no Festival do Canadá, que várias pessoas saíram da sala de cinema antes do final do filme. O senhor queria nos fazer acreditar (e, temo eu, talves o Sr. mesmo acredite nisso) que seu filme era tão forte que algumas pessoas, de estômago mais fraco, tiveram que sair do ambiente opressivo.
Mas o senhor também divulgou que usou em seu filme um som de baixa freqüência no fundo, que provoca náusea, dores de cabeça e desorientação! Ora, então não foi seu filme, e sim um ruído que espantou as pessoas!
Qual o mérito nisso?
E o senhor, usando essas práticas pobres e comuns de cinema experimental de adolescentes, ainda tem a ousadia de se comparar ao mestre Stanley Kubrick??
A menos que seja desenvolvida tecnologia para colocar seus subterfúgios acústicos em DVD, seu filme terá uma carreia muito curta nessa mídia.
Como sugestão, devo dizer que:
O fato de ter conseguido acesso a uma câmera que gira em 3 eixos não o obriga a usa-la, ainda mais por tanto tempo, e com resultados tão cansativos e inóquos.
O senhor já havia acumulado o roteiro e a direção. Deveria mesmo ter deixado um profissional competente fazer a edição.
Computação gráfica é mesmo uma ferramenta importante, mas é preciso ter uma razão para usa-la, senão voltamos ao ponto do filme experimental adolescente.
Se o tema do filme fosse homofobia, algumas cenas e frases poderiam ser melhor aceitas. Como homofobia não era parte da trama, o excesso de ataques aos homossexuais, as frases preconceituosas e as cenas de nudez nos revelam não só sua homofobia gritante, como as vezes nos faz pensar que o senhor mesmo, tem enfrentado dúvidas a respeito de sua própria sexualidade, tamanha a impressão deixada no filme.
Aliás, nesse tópico específico, me dei ao trabalho de procurar sua filmografia, permeada por homofobia e confusões sobre preferência sexual:
8 (segment, SIDA) (2007)
Destricted (segment, We Fuck Alone) (2006)
Arielle Je Suis si Mince (music video)
Placebo Protege Moi (music video)
Irréversible (feature film) (2002)
I Stand Alone (feature film) (1998)
Intoxication (short film) (1998)
Sodomites (film) (short film) (1998)
Une expérience d'hypnose télévisuelle (short film) (1995)
Carne (medium-length film) (1991)
Pulpe amère (short film) (1987)
Acredito mesmo que auxilio profissional seria de grande valia para o senhor, seus problemas com sua própria sexualidade devem ser resolvidos, sob pena de continuar a fazer filmes permeados com suas dúvidas e que, no final, acabam por comprometer o entendimento e o sentido da história.
De minha parte, eu aprendi duas coisas:
Mesmo grandes atrizes como Monica Bellucci, podem ser iludidas e eventualmente convencidas a fazer parte de filmes de tão baixo nível (Espero que pelo menos ela tenha sido paga com antecedência). Mas acredito que todos nós sabemos que ela só esteve em seu filme por ser esposa do Sr. Vicent Cassel, um de seus produtores. Não acho que o Sr. realmente acredite que ela passaria por tamanho constrangimento apenas pela força (??) de seu roteiro.
Doravante, vou evitar veementemente qualquer filme que tenha seu nome na direção, roteiro, edição, produção ou co-produção. E vou evitar também qualquer filme que o Sr. Vicent Cassel e/ou o Sr. Brahim Chioua venham a produzir. Qualquer pessoa que tenha empenhado dinheiro em seu filme não merece muito crédito, audiência ou atenção.
Ferreira Neto”
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