É Fantástico? (ou "Senhoras e Senhores, Boa Noite")



Ligo a TV no domingo, esperando as vídeo-cassetadas do Faustão (Tá, eu gosto, fazer o que?). Eu gostava muito do Faustão, na época do Perdidos na Noite, mas isso foi a muito tempo. Atualmente, eu o acho extremamente desagradável, e é comum eu tirar o som da TV para assistir às cassetadas. Incrível como algumas pessoas não se reciclam, e ainda pioram o que já não está bom.


De qualquer maneira, acabado o Faustão, entra o Fantástico. A primeira reportagem é sobre sutiã. Aí entra uma atriz da novela dos hindus, cujo personagem usa roupas abertas que mostram o sutiã. Paralelo a esse magnífico exemplo de jornalismo fantástico, entra também o Maurício Kubrusly, narrando a origem da horrorosa música da personagem, um tipo de forró sertenejo, terrível, inaceitável!!


E entrevistam o autor (??) da façanha, e mostram várias pessoas cantando, e lá vem a mocinha do sutiã de novo...
É Fantástico...


Depois disso, uma jornalista informa que no próximo quadro vão mostrar a reportagem na qual um parente de uma das vítimas do acidente aéreo da Air France, foi acompanhado por 3 dias, e onde poderemos ver todo o sofrimento do coitado.


Mas como foi que isso aconteceu??


Eu me lembro quando era menino, e o Fantástico realmente tinha matérias interessantes, de conteúdo, algumas até educacionais. Tá, o Hélio Costa toda semana tentava assustar a gente, informando que alguma coisa, qualquer coisa, dava câncer, (Sério, chegou uma época na qual eu tinha medo até de beber água) mas era um bom jornal.
Agora, abrem com uma matéria sobre sutiã! Gente, tem que haver assunto mais sério, não é possível que seja só isso!


E depois, vamos nos entreter, vamos gastar nosso tempo nos divertindo com o sofrimento de um coitado, que autorizou que gravassem sua miséria num momento de dor...


Foi isso que a TV se tornou?


A uns 20 anos, assisti a um filme italiano chamado "Signore e Signori, Buonanotte", com Marcello Mastroianni, onde, durante um programa de TV, eram tratados os temas sociais de maior relevância da Itália. E como a Itália de 30 anos atrás era o Brasil de hoje!!


Falavam de corrupção de políticos, de corrupção da igreja, de trabalho infantil, da estupidez de alguns militares, no poder absurdo da mídia e da exploração da desgraça humana para fins comerciais e de entretenimento.
(Foi um filme muito famoso a duas décadas, muitas faculdades de sociologia e comunicação o usavam como matéria e tema. Vale a pena ver)


Mas a semelhança entre essa comédia satírica e a realidade de nosso jornalismo dominical, me fez pensar que talvez, para nos livrarmos desse amontoado de absurdos, será necessário por aqui também, uma "Mani Pulite" (que por aqui ficou conhecida como "Operação Mãos Limpas”).


Talvez, com alguns políticos e policiais sérios, uma boa dose de determinação e um bocado de coragem, possamos nós também higienizar nosso país e por consequência, nosso povo.

Comentários

Diana Bitten disse…
Olha, quase não vejo TV, me sinto até mesmo algumas vezes alienada devido a isso, mas impressionantemente nesse domingo eu assisti TV quase o dia todo (já que tinha que ler uns capítulos para a pós e fiz isso na frente da TV).

Eu JURO para você que pensei EXATAMENTE a mesma coisa do seu post. Primeiro ponto notado foi essa estória de globais ficarem igual um dois de paus do lado dos apresentadores, ficou muito estranho. Conforme o programa rolava, o meu choque só foi aumentando, pois eu não conseugi ver nenhuma matéria com qualidade.

Não sou muito velha, mas lembro perfeitamente quando o fantástico era um programa onde a família optava por terminar o domingo. Esse definitivamente não é mais o caso.

Vou voltar a ler um livro ou dormir cedo quando estiver em casa no domingo.

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