Feliz?! Dia dos Namorados
Eu sempre esqueço. E não é só dia dos namorados não. Esqueço todas as "famosas" datas importantes do casal.
Início do namoro, primeira transa, duas semanas de namoro, um mês de namoro, seis meses de namoro, aniversário da mãe, aniversário da namorada, esqueço tudo. Não sei pra que, acho mesmo que isso é uma manobra feminista para intimidar os homens, uma jogada premeditada para um dia, fatalmente, tomarem o controle da minha vida, do planeta e da vida delas próprias!
Tenho experiências horríveis sobre o dia dos namorados, mas tenho algumas boas também. Mas, colocando na balança, eu aboliria não só o dia dos namorados, mas todas as datas românticas e especiais, menos o natal, meu aniversário e aniversário da mamãe!
Mas, voltando ao tema...
Eu tinha uma namoradinha, dessas namoradas que a gente tem quando é bem novinho, 15, 16 anos de idade, e acha (e sente) que está apaixonado e que a vida finalmente faz sentido, mas que o mundo inteiro vai pegar fogo e acabar se ela não falar "oi" na escola antes da aula.
E nessa fase, mesmo para os homens, o dia dos namorados é uma data importante.
Daí, eu comecei a planejar o que comprar com duas semanas de antecedência, porque tinha que dar um jeito de arrumar o dinheiro.
Claro, faltando um dia para a "data mágica" eu ainda não tinha o dinheiro.
Minha irmã então se oferece pra me ajudar.
Claro, fiquei devendo favores pra ela até os 32 anos de idade, mas naquela época, se ela me pedisse um córnea e um rim, eu mesmo removia e entregava!
Comprou, (uma camiseta com algum desenho bem brega, realmente não lembro o que era, mas lembro como EU era), pacote com papel de coraçãozinho, laço dourado, fitinhas penduradas.
Chegou o domingo, lá vou eu pra casa dela, ônibus, sacolinha de plástico com a camiseta dentro.
Desço, ando ainda um bocado, perto da casa dela tiro o pacote de dentro da sacola (porque nada a ver presente em sacola de supermercado), toco a campainha, a mãe dela abre a porta.
Até que a mãe dela gostava de mim, mas é como diz o dita
do, "mãe é mãe" e isso dá frio na barriga.
Claro, fui para almoçar, domingo, o pai dela lá, uma avó, dois irmãos. O terror, o terror!
E de repente, lá vem ela! Leve, andando quase que em câmera lenta (incrível como eu lembro disso como se fosse um filme), os cabelos bem negros, lisos, quase que até a cintura, calças jeans, tenis, camiseta branca, toda linda. O sorriso doce, os dentes de pérolas, os lábios vermelhos, eu era o cara mais sortudo e feliz do mundo! E sabia disso!!
E ela vem com um pacote nas mãos, tentando esconder (o que era uma bobagem, porque era um disco, um LP, e não tem mesmo como esconder uma coisa daquelas).
Beijinho no rosto (Tá, a gente já beijava na boca, mas nunca na frente dos pais) troca de presentes, troca de olhares pastosos, eu abro o meu com falsa surpresa (porque minha mãe já havia me contado que ela tinha ligado perguntando de que cantor eu gostava, quais discos eu tinha...), _Nossa, adoro esse grupo!
E ela abre o meu, com o maior cuidado do mundo para não rasgar o papel (nunca entendi isso: As mulheres não rasgam o papel pra usar de novo, ou pra devolver o presente na loja?), e tira de lá uma camiseta, não lembro mesmo a cor, mas suponho que era vermelha. Na frente, exatamente na altura dos seios, dois disquinhos plásticos, com uma daquelas buzininhas que colocam dentro de bonequinhas de plástico, aquelas que quando a gente aperta faz Pi piiii...
Abaixo dos disquinhos, os dizeres:
Se me apertar, eu buzino!
Eu acho que, enquanto fugia da casa dela, entre gritos e choro, pude ver o pai dela com algo no rosto que parecia com um sorriso, além do ódio mortal e eterno.
Ela nunca mais falou comigo, embora ainda a visse na escola quase que diariamente.
Minha irmã ainda vive, e sempre rí quando lembra dessa história.
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