Martyrs

Nossa Senhora!

Acabo de ver um filme chamado "Martyrs"

A direção é de Pascal Laugier, e tem como atrizes principais Morjana Alaoui e Mylène Jampanoï.

Honestamente, não conhecia nenhum deles, (embora tenha descoberto, agora, que Pascal é o mesmo diretor de "Saint Ange", um suspense muito mais ou menos e "Pacte des Loups", que teve o título adaptado para "A Irmandade do Lobo" e que é um filme de lobisomem razoável) e peguei pra ver só porque era francês e além de eu estar numa fase de ver filmes fora do circuito comercial, eu adoro filmes falados em francês.

Agora, depois de assisti-lo, fui pesquisar e descobri que ele causou grande comoção no "8º Toronto International Film Festival", adorado e odiado pelos juízes e plateias.

Bem, deve ter sido um dos filmes mais perturbadores que eu já vi. Tá certo, estou em um momento não violento, e tenho evitado os filmes explícitos demais, mas esse, que parecia uma coisa mais para o sobrenatural (pelo menos quando eu lí sobre ele) é na verdade uma viagem aterrorizante para dentro dos medos humanos.
E entendam, não estou elogiando o filme, nem recomendando, aliás, muito pelo contrário, não sugiro que ninguém assista!!

Ele é revoltante as vezes, terrível em outras, mas faz um conjunto tão fechado, tão íntegro ao roteiro, que estou aqui agora achando que não dormirei bem por conta de um filme que eu nem teria visto, se soubesse do que se tratava.

Tá, o que eu falar sobre ele vai ser spoiler, e vou acabar atrapalhando a diversão (???) de quem pegar pra ver depois de ler isso aqui. Mas é um filme violento, e por mais cruas e explícitas que sejam algumas cenas, é a parte da violência implícita que mais me perturbou.

Depois de vários "Sexta-Feira 13", a violência e falta de respeito pela integridade física humana foi mesmo banalizada no cinema e isso realmente me assusta pouco, hoje em dia. Certo, estou num momento que não ando querendo ver muito sangue na TV, mas essa violência que nos acerta no estômago realmente não me perturba mais.

Mas em Martyrs, a coisa é toda em um outro plano, o nível é diferente. Embora tenhamos lá um tanto de violência visual declarada, nada de escatologia, e o resultado da violência é que é mesmo assustador.

E o filme é completamente certo! A fotografia é precisa, a edição foi impecável, a interpretação está perfeita (Quando é pra ficar com pena você quase chora, e quando é pra ficar com raiva, dá vontade de matar o ator e não o personagem), não tem exatamente uma trilha sonora, mas o áudio é absolutamente complementar ao filme.

E depois de um início explosivo, que me colocou na posição contemplativa necessária para a segunda fase, o filme se torna perverso, e eu meio que me senti assim também, por continuar vendo.

A medida que a coisa avança, você não só passa a entender o que está acontecendo, como acaba por entender o porque. Pode não concordar com a intenção (eu não concordei) mas dá pra entender o porque mesmo.

E o filme foi feito para aterrorizar a mente, e não para revirar o estômago (embora, as vezes...). Acho mesmo que a semelhança dos vilões com o estereótipo nazista não foi coincidência.

No final, todos envolvidos, os maus e os bons, vítimas e mártires, compartilham o mesmo sentimento, e isso, eu acho, foi ainda mais assustador, quando eu percebi.

O branco maculado, a inversão dos valores, os adultos investigativos, as crianças com as respostas, as sociedades secretas, a ausência de ruídos externos, tornando gritos verdadeiras navalhas em minha mente, gente, esse foi um filme terrível!!!

De novo, não estou falando mal dele, vou ter que digeri-lo por alguns dias, até vence-lo dentro de minha cabeça. E não vou ver de novo, procurando novos elementos, ele foi muito eficiente, em me dar tudo que eu podia carregar.

Meu conselho é que não assistam. Perturbador demais.

Se forem ver, saibam que é um filme que precisa de um estado de espírito correto para funcionar. Não pode ter conceito pré estabelecido, e justamente por isso não falei nada da trama. Não esperem nada, não procurem nada, deixe que o filme tome forma. Estômago vazio pode ser um bom conselho. É um filme desconfortável, desses que dá vontade de jogar pra frente, para saber como acaba. Se for ver, não faça isso. Saiba que é incomum e desconfortável, mas é cinema de qualidade. Ache uma posição confortável, diminua as luzes, e como disse uma das personagens, "deixe-se levar"