Memórias Antigas - (ou "Tio, Olha Prá Mim se Tem Lagartixa na Privada?")




Descobri que o tempo, esse que todo mundo diz que muda a gente ( e que eu acredito que muda mesmo) deixa também uns nós, uns coágulos na memória da gente, e nem tudo passa, realmente.
Lí uma pesquisa médica uma vez (desculpem, não tenho as referências bibliográficas), que a troca incessante de células do corpo humano provoca uma troca completa de átomos a cada seis anos. Isso quer dizer, a grosso modo, que toda a matéria que nos compõe é substitituida a cada seis anos, uma média de 11 corpos novinhos no curso de uma vida.
O ponto é, que ao trocar as células do corpo, trocamos também, átomo por átomo, todos os nossos neurônios e axiônios e dendritos são refeitos também, e os neurotransmissores tem que ficar "copiando" toda a informação que temos, de um lado para o outro, para que, mesmo trocando a base, as informações, nosso banco de dados, permaneça.
Eu sei que isso não é perfeito, tem informações que eu perdi prá sempre! Minha mãe sempre fala de uma amigo que eu tinha (ele tem até nome, embora eu não me recorde), que estava sempre indo comprar um computador, mas nunca comprava, que tinha o "cabelo espetado", falava alto e não gostava de coca-cola. E outros parentes lembram desse cara! E eu posso garantir, nunca ouvi falar dessa pessoa! Claro, se minha mãe disse que existiu, então existiu, mas eu absolutamente não me lembro.
Por outro lado, certas informações ficam na memória da gente por anos, décadas, e algumas não tem utilidade ou razão alguma pára sobreviver.
Por exemplo, o primeiro telefone que minha familia teve, foi o 3346. Observe, apenas 4 dígitos!!!
Ou, o nome da princesa Isabel é "Isabel Cristina Leopoldina Augusta Miguela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança e Bourbon".
Tabela periódica, nome dos planetas e seus satélites, a gente guarda algumas informações completamente inúteis, as vezes. E não só informações, algumas vem acompanhas de sensações também, o que é ainda mais bizarro.
Eu vejo um objeto ou uma cena em filme, e lembro de uma pessoa ou música, é como se tivesse um "gatilho" na memória, que ativasse uma fonte de informações sempre que algo associativo apareça.
E isso tudo, para chegar na tampa do vaso sanitário.
Eu devia ter uns 12, talvez 13 anos de idade. Tirei a roupa para tomar banho, resolvi fazer uma rápida visita ao vaso, não daquelas visitas que se pode fazer de pé. Eu não estava sentado por mais que 5 ou 6 segundos, uma lagartixa passou correndo de um lado da tampa ao outro, por baixo, me usando como ponte entre os dois lados!
Quem nunca teve uma lagartixa correndo de um lado ao outro da bunda, não entende o que isso representa, tanto física, quanto psicologicamente.
Mas o ponto aqui é que, mesmo depois de tanto tempo, mesmo depois de eu já ter esquecido aulas, lugares e pessoas, SEMPRE que vou usar o vaso sanitário, qualquer vaso sanitário, tenho que levantar a tampa prá verificar se não tem alguma lagartixa alí.
Mais abaixo, uma musica que sempre me faz pensar no meu pai, ou pelo menos em como era meu relacionamento com meu pai.










Cat Stevens - Father and Son






Comentários

nani disse…
Coitado de você...
Isso deve ter sido realmente traumatizante...
Mas também deve ter sido hilário...kkkkkkkk
(Desculpas...rs)

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